A Sibila
Agustina Bessa-Luís
Guimarães Editores,
Lisboa 1998
É esta a mais grandiosa história dos homens, a de tudo o que estremece,
sonha, espera e tenta, sob a carapaça da sua consciência, sob a pele, sob os
nervos , sob os dias felizes e monótonos, os desejos concretos, a banalidade
que escorre das suas vidas , os seus crimes e as suas redenções, as suas
vítimas e os seus algozes, a concordância dos seus sentidos com a sua moral.
Tudo o que vivemos nos faz inimigos, estranhos, incapazes de fraternidade. Mas
o que fica irrealizado, sombrio, vencido, dentro da alma mais mesquinha e
apagada, é o bastante para irmanar esta semente humana cujos triunfos mais
maravilhosos jamais se igualam com o que, em nós mesmos, ficará para sempre
renúncia, desespero e vaga vibração. O mais veemente dos vencedores e o mendigo
que se apoia num raio de sol , para viver um dia mais, equivalem-se , não como
valores de aptidões ou de razão , não talvez como sentido metafísico ou direito
abstracto, mas pelo que em si é a atormentada continuidade do homem, o que, sem
impulso, fica sob o coração, quase sem esperança sem nome.
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