quarta-feira, 1 de agosto de 2018

MAS QUEM É ESTE?


Grande frequentador de cafés (quando os havia, e neles muito escrevi, há épocas, gostos, preferên­cias que mudam), nunca frequentei, contudo, os centros oficiosos de convívio de artistas e escrito­res, incluindo jornalistas. Como a célebre «Brasi­leira» do Chiado, paraíso de muitos, onde também os pides iam tomar a sua bica nos intervalos dos interrogatórios ali mesmo a dois passos, na Antó­nio Maria Cardoso. Chegava a haver, parece, quem entrasse, risonho e distraído, estendesse a mão pe­las mesas à volta, «boa tarde!, boa tarde!» e nem via que era o Seixas. Muito menos frequentei, já homem feito, meios de boémia artística ou faz de conta que sim. E mau. Isto cria uma espécie de cortina de gelo à nossa volta, um quase mas quem é este?, de onde vem?, com resultados pouco dese­jáveis nas notícias, nos artigos, cá estamos nós, nas vendas.

Mário Dionísio em Autobiografia

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