Não é ciúme o que eu tenho,
É pena;
Uma pena
Que me rasga o coração.
Essa mulher
Nunca pode merecer-te;
Não vive da tua vida,
Nem cabe na ilusão
Da tua sensibilidade,
- Mas é bela! Tu afirmas;
E eu respondo que te enganas.
A beleza -
Sempre foi
Um motivo secundário
No corpo que nós amamos;
A beleza não existe
E quando existe não dura.
A beleza -
Não é mais do que o desejo
Fremente que nos sacode...
- O resto é literatura.
Conheço bem os teus nervos;
Deixaram nódoas de lume
Na minha carne trigueira;
- Esta carne que lembrava
Laivos de luz outonal,
Doirada, sem consistência,
A aproximar-se do fim...
Eu já conheço o teu sexo,
Tu já gostaste de mim.
A frescura do teu beijo
E o poder do teu abraço,
- Tudo isso eu devassei...
Não é ciúme o que eu tenho;
Mas quando te vi com ela
- Sem que me vissem, chorei...
António Botto em As Canções deAntónio Botto
É pena;
Uma pena
Que me rasga o coração.
Essa mulher
Nunca pode merecer-te;
Não vive da tua vida,
Nem cabe na ilusão
Da tua sensibilidade,
- Mas é bela! Tu afirmas;
E eu respondo que te enganas.
A beleza -
Sempre foi
Um motivo secundário
No corpo que nós amamos;
A beleza não existe
E quando existe não dura.
A beleza -
Não é mais do que o desejo
Fremente que nos sacode...
- O resto é literatura.
Conheço bem os teus nervos;
Deixaram nódoas de lume
Na minha carne trigueira;
- Esta carne que lembrava
Laivos de luz outonal,
Doirada, sem consistência,
A aproximar-se do fim...
Eu já conheço o teu sexo,
Tu já gostaste de mim.
A frescura do teu beijo
E o poder do teu abraço,
- Tudo isso eu devassei...
Não é ciúme o que eu tenho;
Mas quando te vi com ela
- Sem que me vissem, chorei...
António Botto em As Canções deAntónio Botto
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