sexta-feira, 31 de agosto de 2018

FICOU TODO CHAREADO



Em que momento é que se zangou com o Cardoso Pires?

Começou muito cedo. Ele era um tipo muito consciencioso a escrever e mostrava-me sempre primeiro. Um dia ele estava a ler-me um texto e eu mostrei-me desinteressado, e ele disse: «Tu não estás a ligar nenhuma!» E eu respondi: «Não estou, porque não estou a gostar.» Ficou todo chateado. E depois ele chegou-se muito aos comunistas, para ter apoios, para ter público… Este último livro o Alexandra Alpha já nem li, e a Balada da Praia dos Cães é um disparate. Há um livrinho do cabo, um livrinho de memórias, bem não tem valor literário, mas é um documento muito mais giro que a Balada da Praia dos Cães.

E  como surgiu a ideia de fazer um livro a partir de um conjunto de cartas?

No tempo do fascismo, a epistolografia era considerada um género menor, mas como não havia censura às cartas, eu gostava muito, porque não tinha medo que mas abrissem. Escrevia tudo o que me apetecia. O Pacheco vs. Cesariny é um documento para quem quiser estudar uma certa época literária portuguesa. Literária e não só…

Mas as pessoas não se chatearam de lhes publicar as cartas?

Alguns sim. Mas eu não podia publicar as minhas cartas e as dos outros sem pôr os nomes. Isso sempre foi um hábito meu, dar o nome aos bois. Depois um dia apareceu o Listopad a dizer que nunca mais me ia escrever nada, porque eu podia publicar as cartas dele, e eu respondi-lhe que estivesse descansado, as cartas dele não tinham nenhum interesse literário. Só me interessava quando tinham um cheque lá dentro. Também, nunca eram mais de 100 ou 200 paus…

Legenda: José Cardoso Pires no Bar Americano no Cais do Sodré.

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