terça-feira, 14 de agosto de 2018

OLHAR AS CAPAS



O Secreto Adeus

Baptista-Bastos
Editorial Futura, Lisboa, 1973

«Então, porque bebo?» «É o contrário de estar lúcido.» «Estar lúcido custa assim tanto?» «Custa tanto que é precisos beber. Álvaro ouvia ou falava consigo próprio? O cerimonial da sua consciência, ante o Grande Livro do Direito Divino. Ouvia-se ou ouvia outra voz, em palavras feitas de velhos tormentos, velhas frases que o tornavam hirto, na esperança de ajuda, na hipótese de precária esperança. Teria de escrever, um dia destes, a história do Bósforo e também aquele episódio em Luanda, quando ouvira os murmúrios brandos e agrestes, de uma terra à procura, também à procura, também à procura, da sua própria voz. No Bósforo, em Luanda, meridianos diferentes (pi não?) gritara, gritara, só, comovido e sónico. As histórias bonitas – pensa Álvaro – contam-se para nós, em silêncio, no recesso dos medos, na nossa falta  de coragem. Mas essas coisas todas – pensa Álvaro – pertencem-me: ninguém mas rouba. «Então, porque bebo?» «É o medo de estar lúcido.»

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