O Secreto Adeus
Baptista-Bastos
Editorial
Futura, Lisboa, 1973
«Então, porque bebo?» «É o contrário de estar lúcido.»
«Estar lúcido custa assim tanto?» «Custa tanto que é precisos beber. Álvaro
ouvia ou falava consigo próprio? O cerimonial da sua consciência, ante o Grande
Livro do Direito Divino. Ouvia-se ou ouvia outra voz, em palavras feitas de
velhos tormentos, velhas frases que o tornavam hirto, na esperança de ajuda, na
hipótese de precária esperança. Teria de escrever, um dia destes, a história do
Bósforo e também aquele episódio em Luanda, quando ouvira os murmúrios brandos
e agrestes, de uma terra à procura, também à procura, também à procura, da sua
própria voz. No Bósforo, em Luanda, meridianos diferentes (pi não?) gritara,
gritara, só, comovido e sónico. As histórias bonitas – pensa Álvaro – contam-se
para nós, em silêncio, no recesso dos medos, na nossa falta de coragem. Mas essas coisas todas – pensa Álvaro
– pertencem-me: ninguém mas rouba. «Então, porque bebo?» «É o medo de estar
lúcido.»
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