A Máquina de Joseph Walser
Gonçalo M.
Tavares
Editorial
Caminho, Lisboa, Abril de 2004
Joseph Walser tinha uma vida disciplinada. Levantava-se
às sete horas, barbeava-se, tomava um pequeno-almoço breve. Às oito e rinta
entrava na fábrica que pertencia ao império de Leo Vast, o empresário mais
importante da cidade que Joseph Walser, em dez anos de trabalho, vira apenas
duas vezes e sempre a uma enorme distância.
Das 13 às 14 almoçava. À seis da tarde saía da fábrica
e regressava a casa, a pé.
Margha Walser recebia o marido com um beijo rápido.
Não tinham filhos, os dias eram calmos, os diálogos entre eles respeitosos.
Margha preocupava-se com a forma de vestir do marido.
Não eram apenas os sapatos, todo o vestuário era antigo, fora de moda,
descuidado. Não viviam com dificuldades excessivas; Joseph não poderia comprar
roupas caras, mas era evidente que o seu desleixo não se devia apenas a
limitações financeiras.
Joseph Walser era um homem estranho, falava pouco. O
descuido na sua forma de vestir não era mais do que o reflexo de algum descuido
em relação ao exterior. Ouvia bastante mais do que falava, mesmo com a mulher,
porém a sua forma de ouvir por vezes irritava o interlocutor.
2 comentários:
Bom livro!
A biblioteca da casa tem dois livros de Gonçalo M. Tavares: este, parado desde 2004, e o «Jerusalém», prenda do meu filho no Natal de 2006. Ambos, foram começados e colocados de lado para um qualquer dia de outras leituras. São grandes as minhas dificuldades com a escrita de Gonçalo Tavares. Certamente culpa minha! Há livros que, aos primeiros tempos de leitura, verifico não terem sido escritos para mim. Repito: culpa minha.
Direi ainda que voltei a pegar nestes livros em tempo de pandemia. Chego à conclusão que se as dificuldades já existiam, o «estado de sítio» que vivemos não ajuda à festa. Não sou de opinião que a clausura a que estamos (momentaneamente?)condenados seja bom tempo para leituras.
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