Momentos Difíceis.
João Marques Lopes publicou em 2010 uma Biografia de José Saramago.
Na revista Visão, Marques Lopes conclui que Saramago, no sentido
sartriano, era um «intelectual total» que também escreveu romances e peças de
teatro.
«José Saramago era um
sobrevivente e um autodidacta mas ao contrário de Jean-Paul Sartre, cresceu em
condições económicas difíceis( viveu com os pais em partes de casa, com outras
famílias, sem possibilidade sequer de comprar livros) e, já empregado, foi
despedido um primeira vez por causa da sua actividade sundical, um amargo de
boca que reviveria depois da revolução ao ser saneado do DN. E não passara do
antigo 5º ano do liceu, o que na altura era bom embora ficasse aquém dos outros
literatos com quem dividia as atenções dos leitores.»
Biografia, página 23:
«Durante o período em que viveu
com os pais, até aos vinte e um anos, Saramago passou por dez casas diferentes
em Lisboa. Até 1937, quando por fim alugaram um pequeno andar independente no
número 11 da Rua Carlos Ribeiro à Penha de França»
Página 30:
Página 31:
«… a aprendizagem da língua
estrangeira haveria de servir para a tradução remunerada de dezenas de livros,
ajudando a equilibrar as finanças ou sendo até o único ganha-pão em momentos
difíceis. Não eram contrapontos que indicassem propriamente a construção de um
escritor, mas prenunciavam um mundo diferente para um jovem com os antecedentes
socioecnómicos de Saramago e com comportamentos tão desviantes dos seus meios
como o de frequentar a ópera no Teatro Nacional de S. Carlos, para a qual
entrava por amizade de um porteiro relacionado com o seu pai a partir de cujo
«galinheiro» bem mais ouvia do que via as representações por causa do camarote
rela que tapava parte do palco… Algo estava ali em gestação!»
Página 32:
À data, vive ainda com os pais no pequeno andar independente do número 11 da Rua Carlos Ribeiro, à Penha de França. Entre a casa, o emprego e as bibliotecas, o serralheiro mecânico iniciava um tímido processo de mobilidade social. Transitava a amanuense. Estava prestes a comprar os seus primeiros livros – todos da colecção «Cadernos Inquérito», à época instrumento importante de divulgação cultural e generalista – graças ao empréstimo de trezentos escudos feito por um colega de trabalho. E conservava o hábito de frequentar sistematicamente as bibliotecas públicas.»
5 comentários:
Uma outra história sobre Saramago contada, na revista «Visão» por João Marques Lopes:
«...aquela história muito engraçada em que ele descobriu por acaso o Ricardo Reis na revista «Athena» e pensou que era uma pessoa de carne e osso»
“ao ser saneado do DN”!? a sério, não foi o contrário?
A frase «saneado do DN» é utilizada pelo historiador Pedro Marques Lopes.
Talvez o mais correcto seria: «despedido do DN», restando saber se com, ou não, justa causa.
O episódio ocorre naquele Verão Quente de 1975.
Muito do que se passou naquele tempo necessita de uma visão desapaixonada que eu nunca terei. Por outro lado a idade que me vai acontecendo já não me permitirá, daqui por uns anos, conhecer outras fontes da história que provavelmente existirão e desconheço.
Saramago disse ainda que o «Caso DN» «é uma das muitas histórias mal contadas deste país» e ao jornalista e amigo José Carlos Vasconcelos, em 1999, contou-a com a pretensão, mas sem grande esperança, que ficasse bem contada.
Claro que é o seu olhar dessa história.
Grato pelo complemento. No entanto, quando refere Pedro Marques Lopes “historiador” de quem se trata?
João Marques Lopes e não Pedro Marques Lopes, como, por lapso, escrevi na resposta ao seu comentário.
A Wikipédia informa que João Marques Lopes, nascido em Agosto de 1971, é escritor, jornalista e guionista. A editora «Guerra & Paz» coloca na Biografia sobre José Saramago uma nota sobre o autor:
«João Marques Lopes desenvolve, actualmente, trabalhos de doutoramento na área de Literatura Brasileira, pela Faculdade de Letras de Lisboa e em colaboração com a Universidade de Utrecht, na Holanda. Tem publicado biografias sobre Almeida Garrett, Eça de Queiroz e Fernando Pessoa. Colaborou com vários artigos na colecção «Os Anos de Salazar», sempre no âmbito do literatura e cultura portuguesas. É licenciado em Filosofia pela Faculdade de Letras de Lisboa e exerceu actividade docente no Ensino Secundário durante dez anos.
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