Joan Baez gravou uma canção de protesto sobre mim que
estava a fazer grande sucesso, desafiando-me para eu me envolver – para sairr,
liderar as massas – ser um defensor, liderar a cruzada. A música chamava por
mim através da rádio, como se fosse um apelo de serviço público. A imprensa
nunca me largou. De quando em vez, lá tinha que me oferecer para uma entrevista
para não me deitarem a porta abaixo. Normalmente as perguntas começavam por
qualquer coisa do género «Podemos falar das coisas que andam a acontecer?»,
«Claro, como por exemplo?» perguntava-lhes. Os repórteres disparavam perguntas,
e eu respondia-lhes que não era um porta-voz de nada, nem de ninguém, que era
apenas um músico. Olhavam para os meus olhos como que na expectativa de
encontrar algum indício de bourbon
e carradas de anfetaminas. Eu não fazia ideia do que lhes passava pela
cabeça. Mais tarde acabaria por ser publicado um artigo com o título «Porta-voz
nega que é um porta-voz». Sentia-me como um pedaço de carne que alguém tinha
atirado aos cães. O New York Times publicou interpretações charlatonas
das minhas canções. E a revista Esquire pôs um monstro de quatro caras
na capa: a minha cara juntamente com a de Malcom X, a de Kennedy, a de Castro.
Que diabo quereria aquilo dizer? Era como se eu estivesse à beirinha de um
precipício. Se alguém tinha alguma ideia ou conselho válido para oferecer, não
parecia. Quando se casou comigo, a minha mulher não fazia ideia daquilo em que
se estava meter. Nem eu, na verdade, e agora estávamos em maus lencóis.
Bob Dylan em
Crónicas
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