Carta de Jorge de
Sena, datada de 30 de Março de 1970, para Eugénio de Andrade:
Parece-me que uma das manifestações da minha inquietação do meu cansaço,
como do horror da vastidão de trabalho à minha frente para já (duas teses de
doutoramento, dirigidas por mim, para ler, as provas das Líricas-terceira série,
que começam a chegar, artigos para o dicionário do Cochofel, a edição dos
«poemas ingleses» do Pessoa, a antologia do Pascoaes, a minha antologia pessoal,
etc. para não falarmos do medonho índice de nomes do meu próximo volume
camoniano… e da conclusão dos meus estudos de Ocidente, e do estudo a teu
respeito), é este fugir para a companhia dos poetas de todos os tempos e
lugares, que, descontando alguns amigos, são quem eu sinto mais intimamente à
minha volta. O que, com o muito que sempre fui traduzindo nas horas vagas e não
vagas, ou mentalmente eu traduzia no recordar de poemas que me fizeram sempre
companhia, faz o volume correr o risco de inchar desmesuradamente… Sempre tudo
faço na angústia de que o tempo se me escapa para o fazer, e não acaba o que
quero fazer.
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