Vi, escritos na relva, os mais belos poemas de uma vida.
Sob o clamor das vozes
ouvi a tua voz naquele bairro do sul distante,
buenos aires do perdido amor,
com as suas milongas,
com os seus punhais dolentes.
Tu não crescias.
Eras puro, com a beleza por dentro, essa terrível beleza
que arde no coração.
De muito longe vieram contigo o júbilo e as altas flores
da magia.
Tudo enlouquecia, de repente.
O mundo era um prado vertiginosos, com a demência à volta.
Em Junho, o sol explodia sobre as cabeças delirantes e eu
sei que a morte chegava logo,
batendo à porta da tua noite.
Eu também parti no sonho do branco pó para onde partias
e, depois,
numa lágrima de imenso mar, disse-te adeus, apertando-te
secretamente na solidão dos meus dias.
Tudo passa tão depressa na estação do sol e, em setembro,
já corremos as cortinas dos salões,
regressando ao outono,
quando os cabelos adquirem a neve do tempo. Esquecemos.
Ave que cruzas a grande planície onde a saudade mata com
os seus ferros incandescentes
traz-me novas do meu amigo,
fala-me do vento que o viu nascer ao lado da morte da
alegria.
Agora, que é tarde, só te posso recordar,
aqui sentado na fria pedra dos lugares vazios.
Agora, és apenas um menino triste, abandonado pelas
mãos de deus.
José Agostinho
Baptista, publicado na revista Ler nº
28, Outono 1994
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