Sem Tecto Entre
Ruínas
Augusto Abelaira
Capa: Manuel Dias
Livraria Bertrand, Lisboa, Fevereiro de 1979
Havia ali jornais
expostos numa banca e então li, já não me recordo das palavras exactas: «O presidente
do Conselho Português, doutor Oliveira Salazar, gravemente doente.»
Durante anos
procurei imaginar este dia, adivinhar todas as reacções, as minhas e as dos
outros, mas a notícia agora não me causava nem sombra de emoção. Sim, toda a
minha vida sonhara com aquele momento, mas hoje… Como o brinquedo, depois de
ganho perde o interesse.
Li a notícia quase
indiferente, emocionado apenas por não sentir emoção. Ou isto: com o desaparecimento
do Salazar era uma época da minha vida que morria. Compreendes? Afinal o
Salazar fizera parte da minha vida, da infância, da adolescência, da minha
maturidade… Um ponto de referência permanente, já um pouco de mim, algo que
nunca poderia ser dissociado, quem sabe?, dos mais belos anos da minha vida! O
tempo perdido, o que não volta! Era eu, o tempo do entusiasmo, do MUD Juvenil.
Dolorosamente, mas vivo.
- Que vai
acontecer? – dizes. – Que nos reserva o Marcelo?
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