segunda-feira, 31 de julho de 2017

SÓ TENHO COISAS QUE ME RALEM


No domingo 23 de Julho, acabámos a nossa viagem pela Correspondência trocada entre José Rodrigues Miguéis e José Saramago.

A juntar às viagens com livros que , por aqui, decorrem, acresce este extraordinário livro de Mário Henrique-Leiria: Depoimentos Escritos em que aparecem contos, poemas e cartas de amor.

A incidência recairá sobre as cartas de amor.

Luiz Pacheco, no seu Prazo de Validade, mostra-se agradavelmente surpreendido com este livro:

«Ora aqui está um romance! Não diz que é, mas é. È um belo romance, uma história de amor como nos tempos antigos: trágica. Sublime.»
  
 Luiz Pacheco declara que o Mário-Henrique Leiria, «além de ser uma personalidade, era também uma personagem.

Da ex-esposa alemã sabia muito vagamente, mas da paixão por Isabel nada sabia.

Como nasceram estas cartas?

Em 1955, Mário-Henrique Leiria ia para a Dinamarca mas, por engano, ficou na Alemanha e conheceu uma alemã, de seu nome  Dietlinde, por quem se apaixona perdidamente.

Casam. Mário-Henrique sonha com uma família, mas a «estimada esposa» tinha um programa quinquenal antes dos filhos. Primeiro frigorífico, máquinas de lavar e encerar, carros, seguros de vida, etc. Só depois viria a descendência. Ao fim de dois anos, a esposa alemã regressa à Alemanha, zarpa com novo amor para o Brasil, pede o divórcio.

Mas, por mor de um qualquer passe de mágica, Mário-Henrique apaixona-se, perdidamente, pela da advogada da mulher, ou ex-mulher como quiserem.

Isabel, a advogada, Mário nas cartas também a trata por Beluska e Maruska, não aguenta a barra Mário-Henrique Leiria, escolhe uma outra vida, acaba por casar com um irlandês, tem filhos e o homem do gin, sente-se um farrapo a olhar a solidão que, uma vez mais, se avoluma em seu redor, mas continuam amigos e a trocar cartas.

«Demiti-me de tudo. Estou só. Aliás. Sempre estive. Agora dizem que sou anarquista, inimigo do Estado. Talvez seja, não sei. O que eu não sou, com certeza, é oportunista.»

Ainda Luiz Pacheco:

«Restará espaço para dizer uma coisa bonita? E sincera, e com todo o respeito: nada têm de ridículo estas cartas de amor. As cartas de Amor NUNCA são ridículas. Poderemos sorrir. Isso sim. Aquela Isabelinha bonita, aconchegada com marido e filhos nas brumas de Londres, e Beluska e distante Maruska, doce como o olhar das gazelas do Volga… sai destas cartas como figura inesquecível. Mais muito mais que aquele cavalheiro francês, torpe e antipático, que podemos imaginar nas cartas da Alcoforado. Fazem o favor de conferir, que não exagero nada, lendo-as.»

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