No domingo 23 de Julho, acabámos a nossa
viagem pela Correspondência trocada entre José Rodrigues Miguéis e José Saramago.
A juntar às viagens com livros que , por
aqui, decorrem, acresce este extraordinário livro de Mário Henrique-Leiria: Depoimentos Escritos em que aparecem contos, poemas e cartas de amor.
A incidência recairá sobre as cartas de amor.
Luiz Pacheco, no seu Prazo de Validade,
mostra-se agradavelmente surpreendido com este livro:
«Ora aqui está um
romance! Não diz que é, mas é. È um belo romance, uma história de amor como nos
tempos antigos: trágica. Sublime.»
Luiz
Pacheco declara que o Mário-Henrique Leiria, «além de ser uma personalidade,
era também uma personagem.
Da ex-esposa alemã sabia muito vagamente,
mas da paixão por Isabel nada sabia.
Como nasceram estas cartas?
Em 1955, Mário-Henrique Leiria ia para a
Dinamarca mas, por engano, ficou na Alemanha e conheceu uma alemã, de seu
nome Dietlinde, por quem se apaixona
perdidamente.
Casam. Mário-Henrique sonha com uma família,
mas a «estimada esposa» tinha um programa quinquenal antes dos filhos. Primeiro
frigorífico, máquinas de lavar e encerar, carros, seguros de vida, etc. Só
depois viria a descendência. Ao fim de dois anos, a esposa alemã regressa à
Alemanha, zarpa com novo amor para o Brasil, pede o divórcio.
Mas, por mor de um qualquer passe de mágica,
Mário-Henrique apaixona-se, perdidamente, pela da advogada da mulher, ou
ex-mulher como quiserem.
Isabel, a advogada, Mário nas cartas também
a trata por Beluska e Maruska, não aguenta a barra Mário-Henrique Leiria,
escolhe uma outra vida, acaba por casar com um irlandês, tem filhos e o homem
do gin, sente-se um farrapo a olhar a solidão que, uma vez mais, se avoluma em
seu redor, mas continuam amigos e a trocar cartas.
«Demiti-me de
tudo. Estou só. Aliás. Sempre estive. Agora dizem que sou anarquista, inimigo
do Estado. Talvez seja, não sei. O que eu não sou, com certeza, é oportunista.»
Ainda Luiz Pacheco:
«Restará espaço
para dizer uma coisa bonita? E sincera, e com todo o respeito: nada têm de
ridículo estas cartas de amor. As cartas de Amor NUNCA são ridículas. Poderemos
sorrir. Isso sim. Aquela Isabelinha bonita, aconchegada com marido e filhos nas
brumas de Londres, e Beluska e distante Maruska, doce como o olhar das gazelas
do Volga… sai destas cartas como figura inesquecível. Mais muito mais que
aquele cavalheiro francês, torpe e antipático, que podemos imaginar nas cartas
da Alcoforado. Fazem o favor de conferir, que não exagero nada, lendo-as.»
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