quarta-feira, 26 de julho de 2017

OLHAR AS CAPAS


A Chave de Vidro

Dashiell Hammett
Tradução: Sílvia Mendes Cajada
Capa: Cândido Costa Pinto
Colecção Vampiro nº 47
Livros do Brasil, Lisboa s/d

Ned Beaumont fechou a porta-
- Empreste-me algum dinheiro – Pediu
Madvig tirou uma grande carteira parda do bolso interno do casaco.
- Quanto é que você quer?
- Duzentos.
Madvig estendeu-lhe uma nota de cem dólares e mais cinco de vinte.
- Dados? – perguntou.
- Obrigado.
Ned Beaumont enfiou o dinheiro no bolso.
- Sim.
- Há muito que você não ganha, não é verdade? – indagou Madvig devolvendo as mãos aos bolsos das calças
- Nem tanto… um mês, ou mês e meio.
Madvig sorriu.
- Para perder já é bastante.
- Não para mim.
Havia uma leve irritação na voz de Ned Beaumont.
Madvig fazia tilintar moedas no bolso.
- Jogo forte, esta noite?
Ele sentou-se num canto da mesa a abaixou os olhos para os sapatos castanhos, lustrosos.
Ned Beaumont fitou os olhos curiosos no homem loiro, depois sacudiu a cabeça.
- Fraquinho – respondeu.
Dirigiu-se para a janela. Por cima dos prédios do aldo oposto da rua, o céu estava negro e pesado. Ned Beaumomt foi até ao telefone atrás de Madvig e pediu um número.
- Allô, Bernie. É Ned quem fala. Quanto é que Peggy O’Toole está a pagar?... Só isso?... Bem, dê-me quinhentos de cada… Certo… Aposto que vai chover, e se isso se der, ela venverá Incinerator… Está bem, nesse caso, pague mais… Óptimo.
Desligou o telefone, deu uma volta e postou-se novamente diante de Madvig.
- Por que não para de jogar por algum tempo, enquanto está a perder dessa maneira? – perguntou ele.
Ned Beaumont carregou o sobrolho.
- Não vale a pena; só serve para aumentar o azar. Eu devia ter jogado os mil e quinhentos dólares de uma vez, em lugar de os esparramar na mesa. Bem poderia aceitar o seu conselho e parar.
Madig riu-se e ergueu a cabeça.
- Se você for capaz de resistir à tentação – disse.
Ned Beaumont deixou cair os cantos da boca e as pontas do bigode acompanhando-lhes o movimento.
- Sou capaz de resistir a udo o que tiver de resistir – disse enveredando para a porta. Tinha a mão na maçaneta quando Madvig falou.
- Nesse ponto acredito que possa, Ned – disse com sinceridade.
- Possa o quê? – perguntou Ned Beaumont voltando-se mal humorado.
Madvig passou a olhar para a janela.
- Possa resistir a tudo.

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