sábado, 15 de julho de 2017

SARAMAGUEANDO


Tanto quanto se sabe, os jogadores de futebol não são dados a leituras de livros, do que quer que seja, talvez os diários desportivos façam parte dos seus interesses de leitura.

São mais de ouvir músicas e jogos de telemóvel, jogarem uma suecada ou coisa semelhante.

Quando perdem um jogo têm sempre uma frase engatilhada:

«É preciso levantar a cabeça e pensar no próximo jogo.»

Que seja!

Mas agora, o jovem Francisco Geraldes, jogador do Sporting, foi apanhado no banco de suplentes, e antes de um jogo amigável com o Valência, a ler O Ensaio Sobre a Cegueira de José Saramago.

A Fundação José Saramago aproveitou a jogada, sinalizou outros livros de Saramago, meteu-os num envelope e colocou uma mensagem:

«Francisco Geraldes, quando voltarem estarão mais reforços à espera! Um abraço, boa época e boas leituras!»

Quando chegar à página 226 o jovem Francisco Geraldes, quem quer que seja, há-de ler:

«A mulher do médico vai lendo os letreiros das ruas, lembra-se de uns, de outros não, e chega um momento em que compreende que se desorientou e perdeu. Não há dúvida, está perdida. Deu uma volta, deu outra, já não reconhece nem a ruas nem os nomes delas, então, desesperada, deixou-se cair no chão sujíssimo, empapado de lama negra, e, vazia de forças, de todas as forças, desatou a chorar. Os cães rodearam-na, farejam os sacos, mas sem convicção, como se já lhes tivesse passado a hora de comer, um deles lambe-lhe a cara, talvez desde pequeno tenha sido habituado a enxugar pratos. A mulher toca-lhe na cabeça, passa-lhe a mão pelo lombo encharcado, e o resto das lágrimas chora-as abraçada a ele.»

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