Tanto quanto se sabe,
os jogadores de futebol não são dados a leituras de livros, do que quer que
seja, talvez os diários desportivos façam parte dos seus interesses de leitura.
São mais de ouvir
músicas e jogos de telemóvel, jogarem uma suecada ou coisa semelhante.
Quando perdem um jogo
têm sempre uma frase engatilhada:
«É preciso levantar a cabeça e pensar no próximo jogo.»
Que seja!
Mas agora, o jovem
Francisco Geraldes, jogador do Sporting, foi apanhado no banco de suplentes, e
antes de um jogo amigável com o Valência, a ler O Ensaio Sobre a Cegueira de José Saramago.
A Fundação José
Saramago aproveitou a jogada, sinalizou outros livros de Saramago, meteu-os num
envelope e colocou uma mensagem:
«Francisco Geraldes, quando voltarem estarão mais reforços à espera! Um
abraço, boa época e boas leituras!»
Quando chegar à
página 226 o jovem Francisco Geraldes, quem quer que seja, há-de ler:
«A mulher do
médico vai lendo os letreiros das ruas, lembra-se de uns, de outros não, e
chega um momento em que compreende que se desorientou e perdeu. Não há dúvida,
está perdida. Deu uma volta, deu outra, já não reconhece nem a ruas nem os
nomes delas, então, desesperada, deixou-se cair no chão sujíssimo, empapado de
lama negra, e, vazia de forças, de todas as forças, desatou a chorar. Os cães
rodearam-na, farejam os sacos, mas sem convicção, como se já lhes tivesse
passado a hora de comer, um deles lambe-lhe a cara, talvez desde pequeno tenha
sido habituado a enxugar pratos. A mulher toca-lhe na cabeça, passa-lhe a mão
pelo lombo encharcado, e o resto das lágrimas chora-as abraçada a ele.»
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