quinta-feira, 27 de julho de 2017

UMA MEDONHA SOLIDÃO...


Carta de Jorge de Sena, datada de 18 de Janeiro de 1971, para Eugénio de Andrade:

Quando a não encontrares sentido na vida, meu caro… Cada vez mais, com igual desespero, vou achando que o não tem; e que, se algum o pudesse ter, a humanidade, em grande ou quotidianamente, trata de lho roubar. É isso também a crise de cruzarem-se os cinquenta anos, quando a nossa e a alheia juventude nos começa a passar ao lado – e antes, era mais fácil supor sentidos, ou não parar a pensar neles. Uma medonha solidão, uma impaciência mesmo com os íntimos cuja intimidade se perdeu no tempo, e, sobretudo, a sensação de que tudo foi ou é inútil e não vale a pena nem o trabalho e não há como as relações humanas ou como a solidão para darem trabalho, e do pior, à gente. E, no entanto, é dessas relações que temos sede e fome.


Legenda: Jorge de Sena e Eugénio de Andrade

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