Gosto de
charutos e de boleros.
Alguém disse que,
enquanto houver quem ouça boleros e fume charutos, continuará a ser nula a taxa
de suicídio entre essas gentes.
Fiz apontamento.
Devo muitas
coisas às bandas sonoras dos filmes de Pedro Almodovar.
Lembro Luz Casal
e Chavela Vargas.
Chavela Vargas
morreu no dia 5 de Agosto de 2012.
Lembrei-me de um
excelente texto publicado por Manuel S. Fonseca:
A voz de Chavela era mais do que flores. Não sei se
diga rouca se diga transgressora. Por muito que goste dela, e gosto, Chavela
não é a minha cantora de boleros favorita, mas é a que tem a biografia mais
excitante. Muito mais homem do que mulher, Chavela vestia calças, poncho vermelho
e pistola à cinta. Charuto na boca, saía, num tempo em que as mulheres não
conjugavam o verbo, com o alcalde de su ciudad y otros amigos pelas
mais nocturnas das ruas, emborrachava-se tanto como ele e os outros e
disparava, antes ou depois, sobre o que eles disparassem. Terá dormido com mais
mulheres do que eles todos juntos o que, mesmo que não seja verdade, também não
é uma rematada mentira. Womanizer sem desculpa, foi o que foi.
Fez um tremendo sucesso com as suas rancheras,
mas o que a ela me faz voltar e tantas vezes, é a sensibilidade dos boleros. O
êxito fê-la saltar da ciudad para o mundo, Europas e Hollywood. Não
deixou, por isso, de ser o homem que era, mulher portanto, roubando dos outros
homens belas mulheres que nunca quiseram ser homens – logo ela que em pequena
nunca tinha brincado com bonecas. Dizem que beijou a boca fresca de Ava Gardner
que a ela (ou ele?) se terá rendido de tiro e queda. Boa pontaria, digo eu.
Agora, apareceu uma carta de Frida Kahlo a confessar tremores e olhar nublado: “…es
erótica. Acaso es un regalo que el cielo me envia” escreveu a pintora em
carta descoberta há pouco e que acusam de apócrifa.
Será, mas apócrifa é tudo o que não é a estarrecedora
interpretação da canção que a Frida sempre La Chabela dedicou. La llorona que
se pode ver e ouvir abaixo.
Chavela tinha 93 anos. Continuava a gostar de armas e
a dizer que quando se faz o que se gosta se deve fazê-lo a noite inteira.
Sem comentários:
Enviar um comentário