Ora foi num dia
treze
que em seu bíblico lugar de dor
minha mãe deu por completas
as letras de meu teor
Porque para acabar o mundo
era precisa a minha mão
do azul calafetado
caí nas facas do chão
Machucada de nascida,
da minha sofrida região
pus-me a levantar o mapa
em ponto de exclamação
Assim na câmara escura
de cada privada saliência
meus olhos se revelaram
negativos da ausência
Soube que o tempo é uma luva
antissética que o infinito
calça para joeirar
sem contágio o nosso trigo
daí o amor ser o meio
do homem dividido em dois
e a pior metade é estarmos
à espera de sermos depois
Soube que quando a amargura
nos gasta a pintura aparece
a cor que teriam os olhos
de um deus apócrifo se viesse
não refulgente ou teologal
tampouco suspensa espada
mas ocasional como vestir
uma camisa lavada
porque a vida é a ocupação
do único espaço disponível
para o possível amanhã
da nossa véspera impossível
e o sidéreo, adeus mistério
é um queijo de paciência
para a gulodice da terra
(e não perdi a inocência)
Soube coisas que sabê-las
foi eu ir ficando nua
como no apocalipse uma última
pedra vestida de lua
como no fim do mundo um lírico
verme a recomeçá-lo
a beber estrelas e peixes
pelo seu estreito gargalo
Como eu em amorosa
posição de cana ereta
a pescar no indizível
o sinónimo de poeta
que em seu bíblico lugar de dor
minha mãe deu por completas
as letras de meu teor
Porque para acabar o mundo
era precisa a minha mão
do azul calafetado
caí nas facas do chão
Machucada de nascida,
da minha sofrida região
pus-me a levantar o mapa
em ponto de exclamação
Assim na câmara escura
de cada privada saliência
meus olhos se revelaram
negativos da ausência
Soube que o tempo é uma luva
antissética que o infinito
calça para joeirar
sem contágio o nosso trigo
daí o amor ser o meio
do homem dividido em dois
e a pior metade é estarmos
à espera de sermos depois
Soube que quando a amargura
nos gasta a pintura aparece
a cor que teriam os olhos
de um deus apócrifo se viesse
não refulgente ou teologal
tampouco suspensa espada
mas ocasional como vestir
uma camisa lavada
porque a vida é a ocupação
do único espaço disponível
para o possível amanhã
da nossa véspera impossível
e o sidéreo, adeus mistério
é um queijo de paciência
para a gulodice da terra
(e não perdi a inocência)
Soube coisas que sabê-las
foi eu ir ficando nua
como no apocalipse uma última
pedra vestida de lua
como no fim do mundo um lírico
verme a recomeçá-lo
a beber estrelas e peixes
pelo seu estreito gargalo
Como eu em amorosa
posição de cana ereta
a pescar no indizível
o sinónimo de poeta
Natália Correia em As Maçãs de Orestes
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