Possivelmente sei das razões que em cada dia do final do ano me lembrar da frase de Umberto Eco, mas nunca atino com a razão:
«Os imbecis vão tomar conta do mundo.»
Miguel Torga, em Milão, no último dia do
ano de 1932:
«Não se pode dormir com tanta gente lá
fora, aos uivos, a festejar o ano novo. Como se fosse possível um ano novo rer
melhor do que o velho!»
Vergílio Ferreira, no findar de 1978:
«Estava eu a querer saber o que vou
fazer este ano. Não sei.»
António Alçada Baptista, em Dezembro de
1984:
«Olho para o novo ano com fé e
esperança. O meu incansável de sobrevivência faz-me recordar mais as alegrias
que tive do que as tristezas. O que é que querem que eu faça? Gosto de viver e
detesto a existência em forma de lamúria.»
O velho ano está quase a escapulir-se.
Foi mais um, e foi péssimo!
A Sophia gostava de dizer que não sabia
por que as pessoas celebravam a passagem do ano porque o ano estava sempre a
passar.
O tempo do meu cachimbo estar apagado, o
meu copo vazio e a chegar-me a lembrança do Helder Pinho, na passagem do ano de
1972, a telefonar para casa do meu pai e a gritar-me, o Helder morava, junto ao
Tejo, na Rua da Manutenção: «eh pá! estou a ouvir a ronca dos barcos no
Tejo a saudar o novo ano. Que maravilha!...que maravilha.» e mais
outra lembrança, José Saramago, na noite estrelada cálida e tranquila de
Lanzarote, no findar do ano de 1994: «Ninguém mais no mundo quer esta
paz?»
Agora, segue-se o salto sem rede no
vazio incógnito do novo ano.
Será, então, tempo de voltar a acender o
cachimbo, voltar a encher o copo.
Será?