quinta-feira, 3 de agosto de 2017

A VAIDADE DO DIA-A-DIA


29 de Agosto de 1969

Vivemos em plena imitação grotesca das sociedades de consumo. Mas só lhes podemos copiar as cerimónias decorativas e pedantes.
Por exemplo, os editores tentam agora impelir (ou impelem mesmo) os escritores para os cocktails literários de apresentação de livros, para os colóquios, sessões de autógrafos, etc., etc. – mas o consumo que justifique esses ritos neocapitalistas permanece o mesmo, insignificante ou mesmo nulo.
Eu, por mim, recuso colaborar nessas comédias de promoção na Rádio, na Televisão, etc.
Aliás a minha verdadeira promoção comercial não consiste em aparecer a comer salgadinhos ou a responder a perguntas estúpidas na televisão, mas pelo contrário em recusar!
Que diriam os meus filhos se eu me sujeitasse a essas palhaçadas tontas, para alimentar a vaidade do dia-a-dia?

José Gomes Ferreira em Livro das Insónias Sem Mestre VIII volume dos Dias Comuns.

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