Eu tenho comigo trinta discos onde foram gravadas canções, feitas por
diversos cantores de maior ou menor fama. Sobre poemas meus. Desses trinta
discos dois deles foram-me oferecidos pelos seus criadores. Os restantes vinte
e oito (e não estou em erro) foram comprados por mim quando, por acaso, os fui
encontrando nas montras das casas de discos por onde passava.
O que mais se notabilizou nestas andanças foi o Manuel freire, um rapaz
com voz agradável e talento musical. Quando depois o conheci, e conversei com
ele, disse-me que ficara muito impressionado quando leu os meus poemas publicados,
pelo seu sentido musical. Particularmente leu a “Pedra Filosofal” e,
espantosamente, impelido pelo ritmo do texto, começara a lê-la e a trauteá-la.
Daí lhe nasceu, de imediato a música que tão popular se tornou. Houve quem
dissesse no jornal que a Pedra Filosofal marcara toda uma geração.
Em Setembro de 1969 Manuel freire cantou, pela primeira vez, na televisão,
aquele meu poema num programa intitulado Zip-Zip. Comprei-o alguns dias depois
após a sua saída, e treze dias depois de o ter comprado procurou-me, no liceu
em que então eu trabalhava, o Liceu pedro Nunes, um locutor da televisão que me
foi oferecer um exemplar. Disse-me então que tinha estado em paris, tendo
levado o disco á Feira Internacional que aí decorria, onde um canadiano aí lhe
disse que pretendia editá-lo, em língua francesa, no Canadá. Não sei qual foi o
futuro desse desejo.
(…)
O disco de Manuel freire foi famoso. Em meados de 1971 já se tinham
vendido mais de 10.000 exemplares. Em toda a parte foi cantado. Calculem, meus
queridos tetranetos, que em 19 de Fevereiro de 1978, o padre da Igreja de S.
Domingos disse, não cantou, durante a missa, o poema da Pedra Filosofal. Era domingo, e a missa foi televisionada.
(…)
Tenho comigo cinco discos do Manuel freire onde ele canta, com música
sua, não só a “Pedra Filosofal” como também o “Poema da malta das naus”.
Devo-lhe muito. Suponho que foi pela sua actuação que a minha poesia conseguiu
tão grande êxito generalizado.
Em Memórias
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