Ainda a carta – uma enorme
carta - que António José Saraiva, datada de Paris a 4 de Outubro de 1964, envia
para Óscar Lopes:
Como já deves ter pensado, não sirvo para a política. No fundo a
política é uma forma de realização para certas pessoas, como o piano ou a
arquitectura para outras. Essas pessoas fazem a história porque se fazem a si
próprios, como as crianças brincam ou como os pássaros fazem ninho. Mas isso é
lá com eles. Eu faço outras coisas, tenho outro violino. E é esse violino que
eu quero tocar.
(…)
A notar que considero o Marx uma das maiores personalidade da história
do pensamento, mas estou convencido de que ele não cabe dentro do que se
convencionou chamar marxismo. Aconteceu-lhe o mesmo que ao Cristo. Este seria
crucificado se viesse outra vez a este mundo. O Marx seria, quase com certeza,
sido condenado num desses simulacros judiciais que se faziam não só na URSS mas
também na Checoslováquia, na Hungria, na Polónia, etc., etc.
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