quinta-feira, 10 de maio de 2018

OLHAR AS CAPAS



Poesia Completa

Luís Veiga Leitão
Organização: Luís Adriano Carlos e Paula Monteiro
Apresentação crítica: Luís Adriano Carlos
Capa: Armando Alves
Colecção Terra Imóvel nº 12
Edições ASA, Porto, Setembro de 2005

Testamento

Abre os olhos – o sol é teu.
Mergulha as mãos – a água é tua.
Deixo-te o sol, o mar, o céu
que pousa no beiral da nossa rua.
E os trigais do dia que desponta
e as flores da terra que me cobre.
Toda a riqueza milenar, sem conta,
de mais um poeta pobre.

Deixo-te as palavras que não gritaram
estranguladas pelo nó do medo;
e as outras, fuziladas, que tombaram
nos pátios do degredo.
E os sonhos por abrir; hoje, no sono
dos séculos que chamaram eterno.
Toda a Primavera, todo o Outono,
das minhas árvores de Inverno.
E a luta que fundiu meu coração
num canto que sangrou nesta certeza:
Depois de mim virás, ó meu irmão!,
mais claro e limpo de tristeza.

1955

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