Que direito tinha Yvonne a dizer aquilo, justamente quando ele havia
passado vinte e cinco minutos sem tocar em qualquer bebida decente por amor
dela e isto para chegar à conclusão de que, aos olhos de Yvonne, estava tudo
menos desembriagado! Ah, uma mulher era incapaz de reconhecer os riscos, as
complicações e – sim - a importância
da vida de um bêbedo! Qual seria o inconcebível
ponto de vista em que ela se estribaria para avaliar o que tinha sido a vida
dele antes do seu regresso? E Yvonne não sabia nada, nada de tudo aquilo por
que ele recentemente passara, como por exemplo, a queda que dera na Calle
Nicarágua, o aprumo, a calma e até a valentia que ele então demonstrara por
altura do uísque irlandês de Burke! Que mundo este! E o pior de tudo é que ela
havia estragado aquele momento. Porque o Cônsul, agora, lembrando-se do dito de
Yvonne: «Talvez tome um depois do almoço» e tudo o que aquela frase
subentendia, sonhava que teria sido capaz de dizer impulsivamente (só por causa
do comentário dela e arriscando até a própria salvação): «Sim, claro que
havemos de ir!». Mas quem é que podia concordar com uma pessoa, senhora daquela
certeza enorme de que ele se encontraria no seu estado normal daí a dois dias?
Aquilo era como ignorar, segundo o conceito superficialissimo de Yvonne, o que
toda gente sabia: que ninguém era capaz de descobrir quando é que ele estava
bêbado.
Malcolm Lowry em Debaixo do Vulcão
Legenda: fotograma de Debaixo do Vulcão de John Huston
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