1
Há poetas que constroem o mundo nos cafés,
outros que o fazem no claro-escuro
entre as prisões e os intervalos.
Há poetas que aguardam cartas de apresentação
nem eles sabem para onde:
para a vida que falhou?, para a manteiga
que lhes foi negada?
Mas todos têm um sonho, todos
se esforçam por valer o pão que amassam
— lançam seu delicado peso na balança.
Eles sabem, esses poetas,
que nada é eterno e imutável.
2
outros que o fazem no claro-escuro
entre as prisões e os intervalos.
Há poetas que aguardam cartas de apresentação
nem eles sabem para onde:
para a vida que falhou?, para a manteiga
que lhes foi negada?
Mas todos têm um sonho, todos
se esforçam por valer o pão que amassam
— lançam seu delicado peso na balança.
Eles sabem, esses poetas,
que nada é eterno e imutável.
2
Tal a «Cadeia de Santo Onofre:
Copie o texto: envie a cinco amigos...»
há poetas que se multiplicam, fendem
a vaga limite, impedem o suicídio,
explicam a vida, argamassam
dedicação e raiva.
Girassóis, rodam sobre si mesmos,
indicam o ponto onde a luz se abre.
3
Há poetas cuja poesia reagrupa, fornece
uma canção à cidade, martela
os que dormem alheios, move-se
silenciosamente ao jeito das estátuas.
Pacífica vaca ruminando na linha do rumo;
rosto impreciso solidificando breve;
tênue tinta azul no papel claro ...
Os poetas têm
como os peles-vermelhas do cinema
o seu fumo e os seus cobertores.
4
Há poetas que renegam cartas
de apresentação para o arrivismo;
recusam a mão ao salário da trampa;
não enfeixam o nome e a desonra
nos telegramas do medo.
Enquanto bebem o café um histrião noturno
arenga; executa o seu número; recebe
por nova pirueta uma ajuda de custo.
Egito Gonçalves em Os Arquivos do Silêncio
Legenda: pintura de
Van Gogh
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