E fui de tal modo atraído para os comboios que eles se tornaram no pano
de fundo de quase todos os pontos de viragem da minha vida e me levaram algumas
vezes à infelicidade e ao desespero, mas também, outras tantas, aos momentos
mais felizes da minha vida.
Os comboios são uma mania profundamente pessoal, mas eu soube sempre
que a minha não era propriamente uma paixão secreta. O estudo dos comboios era
um dos passatempos mais populares na Grã-Bretanha. Havia sempre outros rapazes
a observar comboios, a tomar notas e a tirar fotografias, nas plataformas, nos
ramis, nas passagens de nível fora da cidade. Minuciosamente trocávamos
informações. Ouvíamos falar de incidentes curiosíssimos, de locomotivas que saíam
das suas áreas como grandes aves afastadas da rota por uma tempestade. A
tempestade era uma tempestade económica, que visava a homogeneização dos sistemas
ferroviários locais devido á crise mundial; naquela altura, a Grande Depressão
e tudo o que ela acarretava era a nossa oportunidade. E não ouvimos a
tempestade a aproximar-se.
Legenda: imagem Shorpy
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