Cantar! - Não há ninguém que não cante
Mesmo em silêncio, ninguém!
E às vezes a gente canta
Sem vontade, sem prazer,
- Apenas para mostrar
Que a vida sem esse além
Não tem uma razão de ser.
Cantar para dissuadir
Os venenos do ciúme
Ou para ficarmos sós
Com a nossa consciência,
É sempre som que se espalha
E fica na eternidade
Desse momento vivido;
- Nas sombras de uma saudade
Há sempre a visão amarga
De um coração iludido.
Cantar! Resumo liberto
De tudo que anda a viver;
Numa nota musical
Que se escapa da garganta
De quem canta o que souber.
António Botto em As Canções de António Botto
Legenda: pintura de
Evaristo Baschenis
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