Os Livros Que Devoraram o Meu Pai
Afonso Cruz
Editorial Caminho,
Lisboa, Fevereiro de 2019
No outro dia sentei-me no cadeirão e comecei a folhear o livro o
Fahrenheit 451. Percebi que essa era a temperatura a que arde o papel. O livro conta
a história, passada no futuro, dum mundo onde os livros são proibidos e
queimados. É um livro cheio de papel queimado. Os bombeiros, nesse universo
criado por Ray Bradbury (o autor), não servem para apagar fogos. Pelo
contrário, servem para os atear, fazem fogueiras para queimar livros. Mas nesse
mundo, tal como em todos os mundos que se prezem, há pessoas subversivas,
capazes de fazer coisas extraordinárias pela liberdade de pensamento. Havia,
nesse lugar, quem arriscasse a vida só pelo prazer de ler. Essas pessoas
guardavam livros, escondiam-nos em suas casas.
A personagem principal desta história é um bombeiro, um tal Montag,
que, aos poucos, se vai insurgindo contra o seu próprio trabalho de queimar
literatura. Começa a ter curiosidade por ler e, um dia, salva uns livros da
fogueira e desata a lê-los. Montag acaba por se tornar um foragido e, no final,
encontra um grupo de pessoas que o ajudam. São homens que não têm livros, pois
tê-los poderia significar o fim das suas vidas, mas não prescindiram da
literatura. Tiveram uma ideia muito curiosa: passaram a viver como vagabundos e
a decorar livros. Cada pessoa decorava um e até passava a ser conhecido pelo
título do livro. Eram livros humanos.
Conheci, junto dessas pessoas, literatura de todo o tipo. Eram uma
biblioteca com pernas e sorrisos.
2 comentários:
O primeiro (grande) livro que li deste excelente escritor português.
Por finais do ano de 2013, a minha filha falou-me de Afonso Cruz. Passei a acompanhar o trabalho que tem desenvolvido, mas no tocante a livros apenas tenho como leitura Para Onde Vão os Guarda-Chuvas.
Este Os Livros Que Devoraram o Meu Pai andava, há muito, debaixo de olho. O título e a ideia são um achado, mas a sua leitura, interessante leitura, não me deixou aquele lastro que imaginei me iria deixar.
As culpas deverão ser minhas, mas uma coisa dou como certa: não irei desistir de Afonso Cruz até porque gosto do final do livro:
«Tenho 72 anos. Olho para os meus filhos e para os meus netos e penso em que diabo de histórias se meterão eles e o que é que eles poerão um dia contar. Porque um homem é feito dessas histórias, não é de adê-énes e músculos e ossos. Histórias.»
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