Para
assinalar os 10
anos do CAIS DO OLHAR, os fins-de-semana estão guardados para lembrar
alguns textos que por aqui foram sendo publicados.
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No dia da morte de Armando
Silva Carvalho, deixei o registo de que O Livro do Meio, romance
epistolar escrito por Armando Silva Carvalho e Maria Velho da Costa, é
um livro fascinante que – tenho essa ideia… - passou um tanto ao lado
de críticos – ainda há crítica literária?!... – e leitores.
Aguardava vez para entrar em «Olhar as Capas» e fiz agora
a publicação, com o lamento que só agora aconteça porque o Armando nos deixou.
Obviamente, a capa leva textos de cada um dos autores.
O livro junta memórias de infância, de outros tempos, uma
cumplicidade de anos e anos de vivências e que, dado o calibre dos autores,
nunca poderia sair fruta bichada.
Pelas 412 páginas do livro, passeia uma série de gente,
alguns vivos, outros já mortos, ódios, amores, quotidianos, tristezas,
alegrias, leituras e notícias do quotidiano, histórias de escárnio e maldizer,
amigos e inimigos, perdas e danos, um humor mordaz, venenoso q.b, mas
inteligente.
Claro que o livro retém episódios e gentes que escapam ao
leitor comum, que são vivências próprias dos autores, «afectos flutuantes»,
como algures deixa cair Maria Velho da Costa, a mesma Maria que deixa
assinalada uma frase de Agustina Bessa Luís: «a amizade é confortável
como uma almofada de penas», ou Armando Silva Carvalho que a páginas 322
cita um verso de Jorge de Sena: «sempre me soube a destino a minha
vida».
Repito: um livro imperdivel, editado pela Caminho no
tempo em que ainda não tinha sido devorada pela Leya.
Pode ser que ainda o encontrem na Feira do Livro, que
fecha portas no domingo.
Texto publicado em 15
de Junho de 2017
2 comentários:
Também gostei de ler, Sammy, embora eu seja suspeito, porque as memórias do Armando "são muito Oeste", fala de lugares que conheço bem...
E percebe-se que é um livro de amigos. De dois bons amigos que se revisitam e aproximam através da escrita.
Claro que temos os livros que deixou, mas a morte de Maria Velho da Costa deixa um grande vazio.
Gosto imenso de Maria Velho da Costa e permito-me destacar «Casas Pardas», um enorme livro, este «Livro do Meio», se bem que escrito a quatro mãos, mas é um livro inteligente, de amor e amizade e «Novas Cartas Portuguesas», este escrito a seis mãos, mas um livro importante, acima de tudo um livro político, escrito e publicado em tempos muito difíceis, um livro, queixaram-se as autoras, mais falado do que lido.
Se bem por motivos contrariados, também tenho uma parte de Oeste. Sessões de Cinema no Salão Ibéria, marcação de bilhetes na Tabacaria Havaneza, na Praça da República, o balcão custava 15$00, a 1ª plateia 12$50, a 2ª plateia 8$50, jantaradas em Óbidos, ainda medieval, em São Martinho do Porto, ah! aquele nevoeirinho tão microclima, o café da bomba de gasolina em Alfeizerão, que tinha uma «juke box» onde ouvíamos o Joe Dolan a cantar «Make me An Island», e onde bebíamos gin da marca «Bols», a tónica era «Canada Dry», o limão não tinha casca porque o dono do café aproveitava as cascas do limão para os martinis e o gelo tirava-o das paredes da geladeira dos gelados e estas são as grandes memórias oestinas, o resto, bom o resto…
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