Tínhamos andado a
abusar das excelentes carnes do Tennessee e, naquela noite, a Cristina
apetecia-lhe algo mais ligeiro para o jantar.
Na véspera tinha
jantado alarvemente um BBQ de “ribs”no “Charlie Vergo’s Rendezvous”, uma verdadeira
instituição da Gastronomia de Memphis desde 1948, e muito embora não me
importasse nada de continuar no mesmo ritmo, a pobre da Cristina, como é
habitual, começava a não conseguir acompanhar a minha pedalada...
Sugeri-lhe, então, um
restaurante italiano, porque tinha visto que haveria pelo menos um
recomendável, o “Coletta’s”.
Afinal não era apenas
um, mas dois com o mesmo nome, pertencentes à mesma Família. Um maior, hoje gerido
pelos filhos dos proprietários, e outro mais pequeno, agora gerido pelos seus
pais. E foi precisamente a este último que o GPS nos conduziu.
Tinha várias salas,
mas ficámos logo na de entrada, uma salinha simpática com mesas cobertas com
uma daquelas toalhas aos quadradinhos brancos e vermelhos, de que tanto gosto.
Desde o momento da
entrada que sentimos alguma deferência e simpatia à nossa volta, o que não estranhámos
visto sermos os únicos estrangeiros na sala.
Como é habitual, eu
estava sem aparelho no ouvido mas apercebi-me, a determinada altura, que o nome
de Elvis Presley estava a sair, frequentemente, da boca da jovem empregada que
nos servia.
Perguntei à Cristina
o que se passava e ela esclareceu-me que a empregada lhe tinha dito que aquele
era um dos restaurantes preferidos do Elvis, em Memphis, que por lá aparecia
com muita frequência.
Estranha conversa
essa, respondi-lhe eu, porque nos tínhamos limitado a sentar e a pedir a lista,
e nem uma palavra acerca do Elvis lhe tínhamos dito.
Daí a pouco, nova
investida de Elvis...
Eu escolhi como prato
principal uma pizza de BBQ, e ela felicitou-me pela escolha dizendo que era, também,
o prato favorito do Elvis...!
Sabendo que, nos seus
últimos anos de vida, o “King” se alimentava a grandes “paletes” de hamburgers com
mostarda e ketchup, não fiquei lá muito satisfeito com a comparação e com o
nível do meu gosto gastronómico, mas era evidente que a pequena nos queria
“vender” qualquer coisa que eu ainda não tinha percebido muito bem o que era,
não obstante já estar de aparelho no ouvido...
E ainda por ali andou
ela às voltas a perguntar-nos se a comida estava boa, sempre com Elvis para a direita
e Elvis para a esquerda, apontando para uma pequena sala lá ao fundo e dizendo
que era o “reservado” que ele e a sua “entourage” ocupavam quando por lá
passavam. Até que a determinada altura se aproximou da mesa o corpulento
patrão, certamente descontente com a ineficácia demonstrada pela sua empregada
em nos sacar a desejada informação, e então caí em mim e percebi tudo,
rapidamente...
Por mera
coincidência, era 10 de Agosto e no dia seguinte começava a “semana de Elvis”,
ou seja, os dias em que os mais fanáticos dos seus fãs se juntam para o
homenagear e assistir a uma cerimónia especial na qual se comemora o
aniversário do seu falecimento, no dia 16 de Agosto.
Sorte dos Távoras,
pensei eu para com os meus botões... Mais uns dias e a confusão em Memphis
seria muito maior e eu não teria andado tão à vontade em todos os lugares por
onde andei.
E o que o patrão
pretendia de nós era, agora, muito claro... Primeiro queria saber se já
pertencíamos à vaga de fãs da “semana do Elvis” e se estávamos ali por o
nome do restaurante
lhe ser associado...
Se lhe respondêssemos
que sim ficaria satisfeito, porque tal seria a garantia de mais clientes nos
dias seguintes...
Se lhe disséssemos
que éramos do grupo mas que nunca antes tínhamos ouvido falar do restaurante, certamente
que contaria connosco “to spread the message”...
Mas a resposta que
ouviu da nossa boca foi aquela que menos desejaria... Que não estávamos em Memphis
por causa do Elvis, que fôramos ao seu restaurante por mero acaso e que bem
cedo no dia seguinte partiríamos para o Sul...
Despediu-se, desolado,
desejando-nos boa viagem.
É claro que não
resisti à tentação de dar uma espreitadela ao “reservado do Elvis”.
É uma salinha pequena
rodeada de cartazes e fotografias em todas as paredes, mas onde nem sequer se encontra
nenhuma daquelas típicas fotos do “herói” rodeado pelos proprietários do
restaurante, todos sorridentes e de polegar virado para cima...!
O máximo que por lá
se consegue ver é uma foto de Elvis a jogar futebol americano com os amigos num
terreiro de Memphis, e outra do corpulento Elvis dos últimos anos a espreitar à
janela de uma viatura, com a mulher ao lado, e um talão de fatura do
restaurante, sem qualquer discriminação de despesa, autografado por ele.
Sim, é bem possível
que Elvis Presley tenha, uma bela noite, jantado no “Colleta’s”...
Texto e fotografias
de Luís Miguel Mira
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