O Prazer da Leitura
Marcel Proust
Tradução:
Magda Bigotte de Figueiredo
Capa: Fernando
Mateus
Editorial
Teorema, Lisboa, Março de 2003
Não há talvez dias da nossa infância que
tenhamos tão intensamente vivido como aqueles que julgámos passar sem tê-los
vivido, aqueles que passámos com um livro preferido. Tudo quanto, ao que
parecia, os enchia para os outros, e que afastávamos como um obstáculo vulgar a
um prazer divino: a brincadeira para a qual um amigo nos vinha buscar na
passagem mais interessante, a abelha ou o raio de sol incomodativos que nos
obrigavam a erguer os olhos da página ou a mudar de lugar, as provisões para o
lanche que nos obrigavam a levar e que deixávamos ao nosso lado no banco, sem
lhes tocar, enquanto, sobre a nossa cabeça, o sol diminuía de intensidade no
céu azul, o jantar que motivara o regresso a casa e durante o qual só
pensávamos em nos levantarmos da mesa para acabar, imediatamente a seguir, o
capítulo interrompido, tudo isto, que a leitura nos devia ter impedido de
perceber como algo mais do que a falta de oportunidade, ela pelo contrário
gravava em nós uma recordação de tal modo doce (de tal modo mais preciosa no
nosso entendimento actual do que o que líamos então com amor) que, se ainda
hoje nos acontece folhear esses livros de outrora, é apenas como sendo os
únicos calendários que guardámos dos dias passados, e com a esperança de ver
reflectidas nas suas páginas as casas e os lagos que já não existem.
2 comentários:
Eu, que gosto tanto de livros não consigo "encaixar" neste Marcel Proust; é que nem deste pequeno livrinho sobre livros, o consegui.
Pelo menos já somos dois a não se conseguirem entender com o Marcel Proust.
Do livrinho, a única coisa clara que consegui entender é o parágrafo que trasncrevi. Já o li há muito, ainda pensei em reler, folheei, mas os olhos distraíram-se, novamente, com os dias felizes duma ifâmcia a descobrir palavras e livros.
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