segunda-feira, 25 de maio de 2020

OLHAR AS CAPAS


Novas Cartas Portuguesas

Maria Isabel Barreno
Maria Teresa Horta
Maria Velho da Costa

Editorial Futura, Lisboa, Maio de 1974

                                                                                                                             Primeira Carta I

Pois que toda a literatura é uma longa carta a um interlocutor invisível, presente, possível, ou futura paixão que liquidamos, alimentamos ou procura mos. E já foi dito que não interessa tanto o objeto, apenas pretexto, mas antes a paixão; e eu acrescento que não interessa tanto a paixão, apenas pretexto, mas antes o seu exercício.
Não será portanto necessário perguntarmo-nos se o que nos junta é paixão comum de exercícios diferentes. Porque só nos perguntaremos então qual o modo do nosso exercício, se nostalgia, se vingança. Sim, sem dúvida que nostalgia é também uma forma de vingança, e vingança uma forma de nostalgia; em ambos os casos procuramos o que não nos faria destruir. Mas não deixa a paixão de ser a força e o exercício o seu sentido.
Só de nostalgias faremos uma irmandade e um convento, Soror mariana das cinco cartas. Só de vinganças, faremos um Outubro, um Maio, e novo mês a cobrir o calendário. E de nós, o que faremos?

                                                                                                                                                1/3/71

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