Novas Cartas Portuguesas
Maria Isabel Barreno
Maria Teresa Horta
Maria Velho da Costa
Editorial Futura,
Lisboa, Maio de 1974
Pois que toda a literatura é uma longa carta a um interlocutor
invisível, presente, possível, ou futura paixão que liquidamos, alimentamos ou
procura mos. E já foi dito que não interessa tanto o objeto, apenas pretexto,
mas antes a paixão; e eu acrescento que não interessa tanto a paixão, apenas
pretexto, mas antes o seu exercício.
Não será portanto necessário perguntarmo-nos se o que nos junta é
paixão comum de exercícios diferentes. Porque só nos perguntaremos então qual o
modo do nosso exercício, se nostalgia, se vingança. Sim, sem dúvida que
nostalgia é também uma forma de vingança, e vingança uma forma de nostalgia; em
ambos os casos procuramos o que não nos faria destruir. Mas não deixa a paixão
de ser a força e o exercício o seu sentido.
Só de nostalgias faremos uma irmandade e um convento, Soror mariana das
cinco cartas. Só de vinganças, faremos um Outubro, um Maio, e novo mês a cobrir
o calendário. E de nós, o que faremos?
1/3/71
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