Os Comeres dos Ganhões
Aníbal Falcato Alves
Prefácios: António
Borges Coelho e Helder Pacheco
Capa: Armando Alves
Ilustração: Armando
Alves
Fotografias: Aníbal
Falcato Alves
Campo das Letras,
Porto, Janeiro 1997
No tempo da fome, que foi o tempo do fascismo no Alentejo, a açorda era
o alimento quase exclusivo dos trabalhadores alentejanos durante os meses de
Inverno. No Verão, a açorda era substituída pelo gaspacho.
Claro que as açoradas comidas pelos trabalhadores não tinham os
requintes do bacalhau, da pescada ou de qualquer outro acompanhamento. Mesmo o
azeite não era empregado na devida quantidade.
À açorda assim comida, sem qualquer acompanhamento, chamava-se “açorda
pelada”. Às outras, aquelas bem temperadas, só os senhores tinham acesso. Havia
agrários que comiam o bacalhau nas suas açordas e, num gesto magnânimo,
mandavam guardar as barbatanas para serem cozidas na água da açorda da malta.
Devido a esta benemerência, de vez em quando, os trabalhadores lá a comiam com
um gostinho a bacalhau.
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