Para este domingo, fazer
as coisas mais maravilhosas que um homem pode fazer na vida, estava
agendada uma breve saída pela manhã para evitar os calores anunciados, mas o saber
da morte de Maria Velho da Costa, alterou o plano.
O Ruy Belo dizia que todas as mortes nos matam um pouco seja
a de um santo seja a de um louco.
Tenho uma rosa branca na mesa de trabalho revisitada, rosa que não cessa de não murchar (de facto, não é metáfora de qualquer tenacidade) vejo o céu que passa de azul fosco azul tinta (idem) por cima dos telhados dos remediados vizinhos, remediada também eu. Os gatos, macho e fêmea, dormem, pretos, num sofá preto, na sala. A cadela, ainda mais preta, porque reluz de muito jovem, dorme com eles. Não tenho fome, não tenho frio. Que mais quero?
O pior, Armando, é que amanhã é outro dia.
A vizinha da frente acendeu a luz na cozinha de
contraplacados. Tem oitenta anos, não é viúva, nem desgraçada. Baixou agora o
estore.
Eu também.
Texto em O Livro do Meio
Que dizer sobre a
morte de Maria Velho da Costa?
Não tarda o
laudatótio do costume, as câmaras dos telejornais já devem prontas para : «Acção!»
Maria Velho da
Costa morreu este sábado, aos 81 anos, disse à agência Lusa a realizadora
Margarida Gil, adiantando que a escritora estava fisicamente debilitada.
Afinal, um dos
seus sentimentos de angústia, como em conversa com Mário Ventura acabou por
dizer, tinha então 48 anos: «em relação á terceira idade, em relação à
dependência, à diminuição física, à perda das capacidades…»
Ainda o Livro do Meio:
«Um interlúdio, para reaprender a chorar.
E desaprender.
Só se chora quando se tem a quem.»
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