quinta-feira, 28 de maio de 2020

SONETO XXXI


Com loureiro do Sul e orégão de Lota
te coroo, pequena rainha dos meus ossos,
e não pode faltar-te essa coroa
que a terra elabora com bálsamo e folhagem.

Tu és, como aquele que te ama, das províncias verdes:
de lá trouxemos barro que nos corre no sangue,
pela cidade andamos, como tantos, perdidos,
com medo de que fechem o mercado.

Bem-amada, a tua sombra tem perfume de ameixa,
os teus olhos esconderam no sul suas raízes,
o teu coração é uma pomba de mealheiro,

o teu corpo é liso como os seixos na água,
os teus beijos cachos orvalhados,
e eu, a teu lado, vivo com a terra.


Pablo Neruda em Cem Sonetos de Amor

Legenda: pintura de Dimitry Lisichenko

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