O Cemitério de Praga
Umberto Eco
Tradução:
Jorge Vaz de Carvalho
Capa:
Pierluigi Buttò
Gradiva,
Lisboa, Março de 2011
É necessário um inimigo para dar ao povo
uma esperança. Alguém disse que o patriotismo é o último refúgio dos canalhas:
quem não tem princípios morais envolve-se habitualmente numa bandeira, e os
bastardos remetem-se sempre para a pureza da sua raça. A identidade nacional é
o último recurso dos deserdados. Ora o sentido da identidade funda-se no ódio,
no ódio por quem não é idêntico. É necessário cultivar o ódio como paixão
civil. O inimigo é o amigo dos povos. Faz falta sempre alguém a quem odiar para
nos sentirmos justificados na própria miséria. É o amor que é uma situação
anómala. Por isso, Cristo foi morto. Falava contra natura. Não se ama alguém para toda a
vida; dessa esperança impossível nascem o adultério, o matricídio, a traição do
amigo… Pelo contrário, pode-se odiar alguém durante toda a vida. Desde que
esteja sempre lá, para reacender o nosso ódio. O ódio aquece o coração.
Sem comentários:
Enviar um comentário