segunda-feira, 18 de maio de 2020

SARAMAGUEANDO


Imagem da oficina de carpintaria da Escola Industrial Marquês de Pombal.

No meu tempo, poderia fazer-se o exame de admissão aos liceus e às escolas técnicas.

Fiz os dois: aos liceus, no Liceu Gil Vicente, às escolas técnicas na Escola Nuno Gonçalves.

Aprovado nos dois exames, acabei por escolher o ensino liceal.

Em 1975, liquidaram o ensino técnico profissional.

A democracia desatou a formar doutores e engenheiros, deixando de lado milhares de jovens que aumentaram as taxas de abandono e insucesso escolar.

O ensino técnico profissional estava virado para uma mais rápida integração dos alunos no mercado de trabalho e era menos oneroso para as famílias.

Hoje, praticamente não há trabalhadores especializados. Existem biscateiros.

Lembremos o caso de José Saramago.

Nos anos de 1933-34 e 1934-35 frequentou o Liceu Gil Vicente.

Porque as notas não eram famosas mas, acima de tudo, os custos do curso liceal eram elevados, o pai era sub-chefe da polícia, o ordenado curto e as perspectivas de uma vida profissional, prolongavam-se no tempo. O ensino técnico comportava propinas mais baixas, demorava menos tempo e com a perspectiva de uma vida profissional.

Entre 1935-36 e 1939-40, José Saramago deixa o Liceu Gil Vicente e completa a sua formação escolar na Escola Industrial de Afonso Domingues.

Em meados de 1940, José Saramago termina o curso de Serralharia Mecânica e em 10 de Novembro de 1941, é contratado como serralheiro para a área de oficinas dos Hospitais Civis de Lisboa, mais concretamente em São José, com o ordenado de 8$00.

A família, vivia em Lisboa, em partes de casa, temos as férias passadas na Azinhaga em casa dos avós maternos, passagens de Saramago pela  sopa dos pobres, nos Anjos, as idas da mãe às casas de penhores «minha mãe ia levar os cobertores quando o Inverno terminva, para só os resgatar, poupando tostão a tostão para poder pagar os juros todos os meses e o levantamento final, quando os primeiros frios começavam a apertra», as leituras nocturnas na Biblioteca Municipal do Palácio das Galveias, ao Campo Pequeno, «sem orientação, sem ninguém que me aconselhasse, com o mesmo espanto criador do navegante que vai inventano cada lugar que descobre.»

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