Imagem da oficina de carpintaria da Escola Industrial
Marquês de Pombal.
No meu tempo, poderia fazer-se o exame de admissão aos
liceus e às escolas técnicas.
Fiz os dois: aos liceus, no Liceu Gil Vicente, às
escolas técnicas na Escola Nuno Gonçalves.
Aprovado nos dois exames, acabei por escolher o ensino
liceal.
Em 1975, liquidaram o ensino técnico profissional.
A democracia desatou a formar doutores e engenheiros,
deixando de lado milhares de jovens que aumentaram as taxas de abandono e
insucesso escolar.
O ensino técnico profissional estava virado para uma
mais rápida integração dos alunos no mercado de trabalho e era menos oneroso
para as famílias.
Hoje, praticamente não há trabalhadores especializados. Existem biscateiros.
Lembremos o caso de José Saramago.
Nos anos de 1933-34 e 1934-35 frequentou o Liceu Gil
Vicente.
Porque as notas não eram famosas mas, acima de tudo,
os custos do curso liceal eram elevados, o pai era sub-chefe da polícia, o
ordenado curto e as perspectivas de uma vida profissional, prolongavam-se no
tempo. O ensino técnico comportava propinas mais baixas, demorava menos tempo e
com a perspectiva de uma vida profissional.
Entre 1935-36 e 1939-40, José Saramago deixa o Liceu
Gil Vicente e completa a sua formação escolar na Escola Industrial de Afonso
Domingues.
Em meados de 1940, José Saramago termina o curso de
Serralharia Mecânica e em 10 de Novembro de 1941, é contratado como serralheiro
para a área de oficinas dos Hospitais Civis de Lisboa, mais concretamente em
São José, com o ordenado de 8$00.
A família, vivia em Lisboa, em partes de casa, temos as
férias passadas na Azinhaga em casa dos avós maternos, passagens de Saramago pela sopa dos pobres, nos Anjos, as idas da mãe às casas de penhores «minha mãe ia
levar os cobertores quando o Inverno terminva, para só os resgatar, poupando
tostão a tostão para poder pagar os juros todos os meses e o levantamento final,
quando os primeiros frios começavam a apertra», as leituras nocturnas na
Biblioteca Municipal do Palácio das Galveias, ao Campo Pequeno, «sem orientação, sem ninguém que me
aconselhasse, com o mesmo espanto criador do navegante que vai inventano cada
lugar que descobre.»
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