quinta-feira, 28 de maio de 2020

OLHAR AS CAPAS


A Capital

Eça de Queiroz
Introdução de José Maria D’Eça de Queiroz
Lello & Irmão, Editores, Porto, 1957

Foi deste modo que Artur se achou, por acaso, no meio que devia desenvolver as tendências do seu temperamento. Ao princípio, naturalmente, admirou sobretudo os indivíduos, as personalidades, a fraseologia nova, as excentricidades estranhas; tremeu de entusiasmo, vendo, numa noite de trovoada, na Feira, o próprio Damião tirar o relógio do bolso, um cebolão de prata, e numa atitude de Satã rebelde, dar cinco minutos a Deus para que o fulminasse, e, passados os cinco minutos num grande silêncio do Céu, atirar desdenhosamente o cebolão para a algibeira, dizendo com tédio: «está superabundantemente provado que não há nada lá no Céu», e acrescentar, olhando para a s estrelas: «a não ser algum pó luminosos de Deuses mortos!»

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