segunda-feira, 25 de maio de 2020

OLHARES


De quando em vez, o Verão que está para chegar, anuncia-se por Maio.

Os últimos dias assim têm sido: dias de Verão.

E nós ainda confinados, ou semi-confinados ou lá o que quer que seja.

As viagens estão em tempo de espera. Não se sabe ainda quando acontecerão.

As pequenas já se podem fazer, mas nota-se o medo estampado nas nossas caras.

Fico-me pelo Almeida Garrett, e o começo que ele arranjou para as suas Viagens na Minha Terra:

Que viaje à roda do seu quarto quem está à beira dos Alpes, de Inverno, em Turim, que é quase tão frio como São Petesburgo – entende-se. Mas com este clima, com este ar que Deus nos deu, onde a laranjeira cresce na horta, e o mato é de murta, o próprio Xavier de Maistre, que aqui escrevesse, ao menos ia até ao quintal.
Eu muitas vezes, nestas sufocadas noites de Estio, viajo até à minha janela para ver uma nesguita de Tejo que está no fim da rua, e me enganar com uns verdes de árvores que ali vegetam sua laboriosa infância nos entulhos do Cais do Sodré. E nunca escrevi estas minhas viagens nem as suas impressões; pois tinham muito que ver! Foi sempre ambiciosa a minha pena: pobre e soberba, quer assunto mais largo. Pois hei-de dar-lho. Vou nada menos que a Santarém: e protesto que de quanto vir e ouvir, de quanto eu pensar e sentir se há-de fazer crónica.

Legenda: Lisboa, o Cais da Fundição em eras muito recuadas.

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