domingo, 17 de maio de 2020

ANTOLOGIA DO CAIS


Para assinalar os 10 anos do CAIS DO OLHAR, os fins-de-semana estão guardados para lembrar alguns textos que por aqui foram sendo publicados.

RÁDIO PORTUGAL LIVRE

Capa da cassette, editada em 1977, pelas Edições Avante, contendo extractos de emissões da Rádio Portugal Livre.

A 12 de março de 1972, emitida desde Bucareste, o Partido Comunista Português fazia ouvir a sua voz através da Rádio Portugal Livre.

Através das ondas curtas, após a transmissão do Hino Nacional ouviu-se: 
«Aqui Rádio Portugal Livre! A Emissora Portuguesa ao serviço do Povo, da Democracia e da Independência Nacional.»

Foi nestes termos que o Avante de Abril de 1962 anunciou na sua primeira página a entrada em funcionamento da emissora clandestina do Partido Comunista Português – a Rádio Portugal Livre:

«A notícia divulgou-se mais que depressa e em pouco tempo o entusiasmo correu de Norte a Sul.» «Finalmente ouviu-se a voz de Portugal Livre, grande aspiração de todos os antifascistas portugueses. Mais um golpe profundo foi dado pelo nosso povo na censura salazarista.»


Foi através da Rádio Portugal Livre que pela primeira vez se fez ouvir a voz da cantora comunista Luísa Basto a cantar «Avante, camarada Avante!», da autoria de Luís Cília, que, hoje, funciona como hino do Partido.

A Rádio Portugal Livre encerrou a sua actividade em fins de Outubro de 1974, após a realização do VII Congresso Extraordinário do Partido Comunista Português que se realizou em 20 de Outubro desse ano.

A ideia da criação de uma rádio do Partido, segundo Rui Perdição, principiou a germinar pouco depois da fuga de Álvaro Cunhal de Peniche. O slogan «Aqui Rádio Portugal Livre! A Emissora Portuguesa ao serviço do Povo, da Democracia e da Independência Nacional», foi escolhido por Pedro Soares e pelo próprio Rui Perdigão que o proferiu na primeira emissão.

Além de Rui Perdigão, e de sua mulher Fernanda Perdigão, trabalharam na RPL, entre outros, Aurélio dos Santos, Alda Nogueira, Margarida Tengarrinha, Álvaro Mateus, Teresa Mendes, Maria da Piedade Morgadinho.

Durante a ditadura existiu uma outra rádio clandestina: a Rádio Voz da Liberdade da responsabilidade da Frente Popular de Libertação Nacional, a emitir desde Argel, dirigida por Manuel Alegre e em que trabalharam, entre outros, Fernando Piteira Santos e sua mulher Estela, a primeira voz a dizer:

«Amigos, companheiros e camaradas, daqui fala a Rádio Voz da Liberdade, em nome da Frente Patriótica de Libertação Nacional.»

Legenda:  a capa da cassette é um desenho do pintor António Domingues, datado de 1953.

Texto publicado em 12 de Março de 2014

2 comentários:

Seve disse...

A minha Mãe (uma lutadora) e quase ainda uma criança e mais quatro irmãos, dizia-me que ouviam, às escuras e num cantinho da casa, creio que por volta das dez e meia da noite (isto aconteceu no Alentejo), a Rádio Moscovo e que punham um copo com água em cima da telefonia. Mas não me lembro que explicação é que me deu para este facto (se me a deu).

Sammy, o paquete disse...

Nunca ouvi falar nesse pormenor, mas deveria ter um bom motivo.
Falando de Rádio Moscovo, recordo-me que, durante anos, a Emissora Nacional transmitia um programa do seu correspondente em Paris, um tal José Augusto, com o sugestivo nome de «Rádio Moscovo Não fala Verdade» em que a ditadura pretendia desmentir o que alguns portugueses ouviam clandestinamente.