Ouvir, ouvir de noite uma ambulância,
e desejar que estejas a morrer;
fechar a porta à minha própria infância;
amigos, conhecidos, nem os ver;
quebrar nas mãos o aro da esperança;
mas de mim para mim depois dizer:
«Calma! Quem nada espera tudo alcança...»;
e guardar o revólver; e beber,
a sós, o vinho que na taça baste
a recompor-te, viva, na distância:
isto foi, como herança, o que deixaste.
E ainda o mais que não te quis dizer:
ouvir, ouvir de noite uma ambulância,
e desejar ser eu quem vai morrer...
e desejar que estejas a morrer;
fechar a porta à minha própria infância;
amigos, conhecidos, nem os ver;
quebrar nas mãos o aro da esperança;
mas de mim para mim depois dizer:
«Calma! Quem nada espera tudo alcança...»;
e guardar o revólver; e beber,
a sós, o vinho que na taça baste
a recompor-te, viva, na distância:
isto foi, como herança, o que deixaste.
E ainda o mais que não te quis dizer:
ouvir, ouvir de noite uma ambulância,
e desejar ser eu quem vai morrer...
David-Mourão
Ferreira de Infinito Pessoal em Obra Poética
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