Uma vez, já não me
lembro bem onde, li uma notícia que achei uma delícia…
Em Maranello, terra
da Ferrari, o pároco da igreja tocava os sinos sempre que a equipa da casa
ganhava uma corrida de Fórmula 1 e os “fieis” vinham a correr, trazendo o que
tivessem à mão, e no adro da igreja, todos juntos, faziam a festa.
Numa época em que a
Igreja parece estar em quebra de simpatizantes (acredito que já esteve bem pior
e que Francisco deu uma mãozinha…), isto seria uma boa maneira de arregimentar
novos aderentes.
Imagino os sinos a
ouvirem-se ao longe e os adeptos à saída da Luz, em vez de irem encher o
Edmundo ou o Boa Esperança, a correrem como doidos em direção à Igreja de São
Domingos de Benfica…
Não que de vez em
quando não lhes ficasse bem acenderem uma velinha, mas não tenhamos ilusões.
Coisas destas só mesmo em Itália e com o “Cavallino Rampante”…
É verdade que sino
não tem tocado muito nestes últimos anos. No ano passado só tocou três vezes,
embora uma tenha sido pela vitória em Monza, o que para um italiano vale
sempre muito mais, até porque desde 2010 que tal não acontecia… Em 2018 (6) e
2017 (5) terá tocado mais vezes, mas a grande desilusão foi 2016, em que não
tocou uma única vez, certamente que para grande desilusão do nosso pároco, que
terá perguntado a Deus porque lhe virou as costas…!
No que mais
interessa, que são os títulos, o último Campeonato do Mundo por Equipas data de
2008, com Raikkonen e Massa, e o último piloto a sagrar-se Campeão do Mundo com
um Ferrari foi Kimi Raikkonen, em 2007.
Mas acreditem que
mesmo com tão longa espera, a fúria dos “tiffosi” não esmoreceu. Basta ver como
a pista de Monza fica inundada de adeptos no final de cada corrida de F1 que lá
se realiza.
Andei por Maranello à
procura de uma igreja e até vi duas, mas esta que vos mostro é a que mais perto
se encontra das instalações da Ferrari, pelo que pode muito bem ser aqui que o
pároco manifesta a sua satisfação…
Aqui, como é natural,
cheira a Ferrari por todos os lados. Nos cartazes nas ruas, nas montras das
lojas, nas janelas dos edifícios, eu sei lá…
Numa zona mais
afastada do Centro, numa larga rotunda, um imponente “cavallino rampante” anuncia
a entrada nos terrenos da Ferrari, onde coincidem, lado a lado, parte das
antigas e as modernas instalações fabris.
O maior pitéu, para
quem gosta de automóveis, é, sem dúvida, a “Galleria Ferrari”, o Museu
Automóvel da Ferrari.
Lá estão alguns dos
principais modelos “de estrada”, desde o primeiro, o 166 MM Barcheta, até às
grandes bombas tipo F40 dos anos 90.
Mas o verdadeiro
êxtase reservado para as salas dedicadas à competição.
Lá encontramos o
primeiro Ferrari de Competição, o 125 S, de 1947, com o qual a Ferrari ganhou
pela primeira vez em Le Mans, em 1949.
Lá estão os carros
com que a “Scuderia” ganhou os seus primeiros Campeonatos de Pilotos, a começar
com o Ferrari Tipo 500 com que Alberto Ascari ganhou os Campeonatos de 1952 e
1953, o D 50 com que Juan-Manuel Fangio ganhou em 1956, e o 246 Dino que deu a
Mike Hawthorn o campeonato em 1958, ano dramático para a Scuderia quando dois
pilotos morreram em pista (Luigi Musso em França e Peter Collins na Alemanha) e
o próprio Hawthorn morreria num acidente de viação, poucos meses após o final
da época.
Mas também lá estão
outras preciosidades: o 156 F1 de 1961 que foi pilotado por Phil Hill, a
primeira miniatura de um Ferrari que tive em criança, o 312 com que Niki Lauda
foi campeão do Mundo em 1977 e que também foi conduzido pelo malogrado Gilles
Villeneuve, e algumas das viaturas conduzidas por Schumacher entre 2000 e
2004, quando foi campeão em cinco anos consecutivos.
Le Mans, é claro,
também não podia faltar e, entre outras, por lá vi um exemplar do
275 LM que foi o último carro da marca a vencer em la Sharte em 1965 e foi,
também, a primeira miniatura à escala 1:24 que me lembro de ter tido...
Mas nem só de carros
vive o Museu Ferrari…
Para quem se
interessar pela vertente técnica da competição (não é muito o meu caso…), estão
lá expostos motores de diferentes épocas, caixas de velocidade, jogos de
suspensão, pneus e outras componentes das viaturas.
Outro espaço que nos
encanta é o dedicado ao equipamento dos pilotos: capacetes, fatos, luvas,
botas, e quanta emoção não se sente ao ver os que pertenceram àqueles que
partiram desta Vida cedo demais, como é o caso de Gilles Villeneuve, cujos
equipamentos aqui vos mostro.
Para além de tudo
isto há cartazes, recortes de jornais, filmes da época e outros suportes de
informação alusivos à História da Ferrari.
13 € foi quanto me
custou a entrada neste Museu, há 10 anos atrás. Nada caro, para tão grande
prazer...
Perto da “Galleria”,
um “Stand” da Ferrari com diversos modelos à porta convida-nos para um
“Test-Drive”. Ainda pensei lá ir, mas rapidamente desisti. A minha conta
bancária não chegaria, certamente, para o depósito de caução que teria de lá
deixar…
É por isso que a
Ferrari é um sonho!
Só de o cheirar, até
um cego o quer guiar… Lembram-se da cena do Al Pacino no “Perfume de Mulher”…?
Mas o Al Pacino do
filme era rico e inconsciente, e eu sou um teso consciente...
Virei costas desolado
e pela avenida fora dei por mim a pensar para com os meus botões, como o outro
o fazia, embora com uma tentação muito mais prosaica, em plena manifestação do
25 de Abril:
“Um Ferrari,
assim, jamais será p’ra mim…! Um Ferrari, assim, jamais será p’ra
mim…! Um Ferrari, assim…………………………..”
Texto e fotografias de Luís Miguel Mira
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