Por causa da
pandemia todos os bichos caretas que aparecem nas televisões a botar palavra, desde as suas casas, resguardam-se com os livros por detrás.
Marques Mendes
que, aos domingos, dá catequese na SIC, provável tirocínio para candidato a
Belém, tal como fez o seu companheiro de partido agora presidente, também tem
uma estante de livros por cenário.
Durante semanas,
porque é um calhamaço de 751 páginas, via-se «José Saramago: Rota de
Vida» de Joaquim Vieira.
Alguém lhe terá
chamado à atenção que a coisa talvez não fosse muito bem vista entre as hostes
do partido.
No passado
domingo, em lugar do calhamaço sobre o José Saramago, aparece um calhamaço
sobre Mota Pinto, biografia de João Pedro George, editada em finais de 2016.
Que terá
acontecido?
Mistérios dos
mistérios, vindos desde Caxias até nossas casas.
No próximo
domingo continuará, na estante, o calhamaço sobre o Mota Pinto, ou surgirá uma
outra obra?
Estes rapazes compram os livros?
Ou são-lhes oferecidos pelos editores?
Ou são-lhes oferecidos pelos editores?
E lêem os livros que compram, assim como os
livros que lhes oferecem?
As
vendas dos livros não páram de cair.
O panorama já era grave antes da pandemia,
agora revela-se dramático.
Resta uma certa gente que vai comprando
livros para completar a mobília, como dizia o Eça de Queiroz.
Curiosamente, há dias, no seu blogue, Maria
do Rosário Pedreira dizia-nos que esses cenários das estantes com livros, já
viraram negócio.
Mas já a escritora Maria Judite de Carvalho,
numa crónica publicada em Fevereiro de 1975 e incluída no livro Este Tempo, contava:
«Nunca vi mas li já não sei
onde, que há decoradores que utilizam – ou utilizavam? – as tais lombadas de
cabedal e oiro, a metro, para as suas decorações novo-riquistas. Porque não
usavam livros autênticos, isto é para mim um mistério.»
Comprar livros qualquer um pode comprar. Saber ler é tarefa mais complicada.
São vastos os níveis de iliteracia que vamos
tendo, mas olhando para os nossos políticos, ou estes tais opinadores,
poderemos concluir que, tal como falam e opinam, não lêem ou não sabem ler,
mesmo que os livros estejam lá pelas casas.
Apesar de tudo, se comprassem livros, mesmo
que não os leiam, já era um bom sinal para os editores, os autores que,
comovidos, lhes agradeceriam.
1 comentário:
Esta gente não compra livros, muito menos os lê; oferecem-lhos e ficam bem na estante. Ainda me lembro dos "Amigos do Livro", organização que vendia os livros a metro (era mesmo assim).
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