Na Praia de Chesil
Ian McEwan
Tradução: Ana Falcão
Bastos
Capa: Armando Lopes
Gradiva, Lisboa, Novembro
de 2007
Quando pensava nela, ficava pasmado por ter deixado partir aquela
rapariga com o seu violino. Agora, claro, percebia que a proposta abnegada que
ela lhe fizera era irrelevante. Tudo de que ela precisava era da certeza do seu
amor e de que lhe garantisse que não havia pressa, quando tinham a vida inteira
pela frente. Amor e paciência – se ao menos tivesse possuído os dois ao mesmo
tempo – por certo tê-los-iam ajudado aos dois, E então que crianças por nascer
teriam tido as suas oportunidades, que menina com uma fita no cabelo se teria
tornado a sua filha adorada? É assim, não fazendo nada, que todo o curso de uma
vida pode ser alterado. Na praia de Chesil ele poderia ter chamado Florence,
poderia ter ido no seu encalço. Não sabia, ou não quis saber que, quando ela
fugiu dele, segura na sua angústia de que estava prestes a perdê-lo, ela nunca
o amara mais, ou mais desesperadamente, que o som da sua voz teria ido uma
libertação, e que ela teria retrocedido. Em vez disso, permaneceu no frio e no
silêncio virtuoso do fim daquele dia de Verão, vendo-a caminhar apressada pela
praia, com o som do seu avanço penoso abafado pelas pequenas vagas, até se
tornar uma mancha indistinta, um ponto a desaparecer contra a imensa estrada de
seixos a brilhar na luz pálida do lusco-fusco.
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