sexta-feira, 19 de junho de 2020

POSTAIS SEM SELO


Um escritor nunca esquece a primeira vez em que aceita umas moedas ou um elogio a troco de uma história. Nunca esquece a primeira vez em que sente no sangue o doce veneno da vaidade e acredita que, se conseguir que ninguém descubra a sua falta de talento, o sonho da literatura será capa z de lhe dar um tecto, um prato de comida quente ao fim do dia e aquilo por que mais anseia: ver o seu nome impresso num miserável pedaço de papel que certamente lhe sobrevirá. Um escritor está condenado a recordar esse momento pois nessa altura já está perdido e a sua alma tem preço.

Carlos Ruiz Zafón em O Jogo do Anjo

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