Para assinalar os 10
anos do CAIS DO OLHAR, os fins-de-semana estão guardados para lembrar
alguns textos que por aqui foram sendo publicados.
SARAMAGUEANDO
Se no dia em que sair daqui sair não tiver ainda (já)
outro emprego, começo o ano da estaca zero, completamente desprovido. Mas
continuo a ter uma grande consideração por mim mesmo.
Miguéis por baixo deste parágrafo escreveu a seguinte
nota:
Bravo! seu Saramago.
Não espantam estas palavras de José Saramago.
Uma integridade, outras coisas mais, agarrada, toda uma
vida, à teima dos ossos.
«Que nos importa morrer se não morrermos de rastros?»
Versos de Cantiga de
Ódio de Carlos de Oliveira.
«Posso morrer de fome mas não peço esmola.»
«Só sei que “para vivir de rodillas vale más
morir de pie.»
Palavras de Mário Henrique Leiria em Depoimentos
Escritos.
Foi a coragem, outras coisas mais que, em 1975, face ao
despedimento do Diário de Notícias, à recusa dos seus pares e
camaradas de Partido em que integrasse a equipa de O Diário, que o
levou a viver de traduções, de colaborações várias, de arrancar para o Alentejo
e do chão levantar um livro que o levaria, anos passados, ao Prémio Nobel da
Literatura.
Apenas se conhece a versão de José Saramago sobre a sua
substituição, por Natália Correia, à frente da direcção literária da editora
Estúdios Cor.
Natália Correia, o que lhe sobrava em talento poético,
escasseava-lhe em outros predicados que definem as pessoas.
Uma lindíssima mulher, segundo opinião corrente e
variada, mas de uma vaidade cega que a conduzia a becos sem saída.
Luiz Pacheco numa das suas muitas
entrevistas-descasca-pessegueiro, chama-lhe
«degenerasda», e conta a história de que,
numa das suas estadias na prisão do Limoeiro, Natália Correia teve lá em casa a
mulher de Pacheco mais um filho pequeno, mas tentou assediar a rapariga,
Pacheco avança uns pormenores escabrosos e remata que, quando saiu da
prisão, «esclareceu o assunto com a Natália».
Natália Correia não teve qualquer pejo em substituir José
Saramago.
O contrário, certamente, não aconteceria.
Não são conhecidas as razões por que o fez mas,
provavelmente, não andarão longe de motivos fúteis a roçar lampejos de inveja,
porque de dinheiro não precisava Natália para viver dado que, ainda segundo
Pacheco, «só «arranjava amantes velhos com massa.»
Legenda: contracapa da Correspondência entre
José Rodrigues Miguéis e José Saramago.
Texto publicado em 23 de Julho de 2017
1 comentário:
E uma era tão acariciada e outro era tão vilipendiado...mas a verdade é como o azeite e o perfil de cada um define-os!
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