quinta-feira, 18 de junho de 2020

CONVERSANDO


Foi há algum tempo, em Roma, ano de 1954.

A polícia bate à porta da poetisa Ingeborg Bachmann.

Uma sua vizinha tinha chamado a polícia por causa do ruído que Ingeborg fazia quando batia, na máquina de escrever, os seus poemas, os seus textos.

Alguns ainda se lembram de como era aquele som, um som ritmado.

Eu gostava desse barulho, mas a vizinha de Ingeborg disse à polícia que esse barulho não a deixava dormir.

A poetisa disse aos polícias que a inspiração só lhe surgia durante a noite.

Vai dentro de casa e traz-lhes uma folha de papel com um poema dactilografado.

-Ah! é poeta – diz um dos polícias.

Retiram-se e Ingeborg ainda os ouve dizer:

- Poemas tão curtos para tanto barulho!

Não sei da veracidade desta história.

Mas como eu gostava do matraquear da minha velha máquina de escrever, comprada a prestações, muitas vezes colocada na Casa de Penhores para que o meu pai, no fatídico dia 8 de cada mês, naqueles anos tão difíceis, pudesse pagar a renda da casa.

Hei-de voltar à minha velha máquina de escrever e ás histórias do quotidiano que  ela tem agarradas.

Sem comentários: