Os Poemas Possíveis
José Saramago
Colecção Poetas de Hoje nº 22
Portugália Editora, Julho de 1966
No momento em que soube da morte de José Saramago, fiquei sem capacidade para dizer alguma coisa a quem quer que seja, eu incluído.
Bem tentamos, mas nunca estamos preparados para a morte.
Principalmente a morte daqueles de quem muito gostamos.
Entendi, então, que a minha homenagem passaria pela simplicidade de colocar, aqui, a capa do primeiro livro que li de José Saramago, "Os Poemas Possíveis” e trazer as últimas palavras de “As Intermitências da Morte”.
Nada mais.
Decidi depois, em cada dia, ir apresentando todos os seus livros. Sem entrar em grandes detalhes porque apenas sou um leitor e nunca um crítico.
Com Caim a apresentação dos livros de José Saramago chegou ao fim.
Mas tenho que voltar ao princípio, a Os Poemas Possíveis.
Foi na Livraria Portugal, naqueles escaparates que ainda hoje estão ao meio da sala do rés-do-chão, que topei, pela primeira vez, com o nome de José Saramago.
Estávamos em 1966, tinha então 21 anos, e não fazia a mínima ideia quem era José Saramago, tão pouco dele ouvira falar. Mas o livro que olhei fazia parte de uma colecção de prestígio: “Colecção Poetas de Hoje” da "Portugália Editora”.
Folheei o livro e do que fui vendo nascia um sentimento de gosto e prazer.
Houve tempo para passar os olhos pela “Fala do Velho do Restelo ao Astronauta”, mais dois, três poemas, mas a decisão foi apenas uma: estava com a minha gente.
E tudo começava logo no primeiro poema do livro:
“Até ao Sabugo”
“Outros porão em verso outras razões,
Quem sabe se mais úteis e urgentes,
Mas ninguém se refaz a natureza,
E como quem prevê acusações,
Aqui direi que busco a só maneira
De todo me encontrar numa certeza,
Leve nisso ou não leve a vida inteira.
Assim como quem rói as unhas rentes.”
Ainda hoje o livro tem o preço escrito a lápis pelo livreiro: 40 escudos.
E era daqueles livros que, gostosamente, se tinham de abrir com uma faca.
O quanto lamentei quando os livros passaram a dispensar o exercício desse prazer, demorando os olhos pelas páginas que se iam revelando e até o livro estar aberto por completo. Só depois a leitura começaria.
Foi assim que começou a minha josésaramaguite aguda.
Feliz do leitor que, por si só, descobre um autor que desconhece, que sem qualquer tipo de ajuda passa a gostar de alguém que, ainda não saberá, um dia será Prémio Nobel da Literatura.
Se isto não é a felicidade, eu andei por lá perto!
Fiquei à espera de outros livros, outras descobertas.
José Saramago
Colecção Poetas de Hoje nº 22
Portugália Editora, Julho de 1966
No momento em que soube da morte de José Saramago, fiquei sem capacidade para dizer alguma coisa a quem quer que seja, eu incluído.
Bem tentamos, mas nunca estamos preparados para a morte.
Principalmente a morte daqueles de quem muito gostamos.
Entendi, então, que a minha homenagem passaria pela simplicidade de colocar, aqui, a capa do primeiro livro que li de José Saramago, "Os Poemas Possíveis” e trazer as últimas palavras de “As Intermitências da Morte”.
Nada mais.
Decidi depois, em cada dia, ir apresentando todos os seus livros. Sem entrar em grandes detalhes porque apenas sou um leitor e nunca um crítico.
Com Caim a apresentação dos livros de José Saramago chegou ao fim.
Mas tenho que voltar ao princípio, a Os Poemas Possíveis.
Foi na Livraria Portugal, naqueles escaparates que ainda hoje estão ao meio da sala do rés-do-chão, que topei, pela primeira vez, com o nome de José Saramago.
Estávamos em 1966, tinha então 21 anos, e não fazia a mínima ideia quem era José Saramago, tão pouco dele ouvira falar. Mas o livro que olhei fazia parte de uma colecção de prestígio: “Colecção Poetas de Hoje” da "Portugália Editora”.
Folheei o livro e do que fui vendo nascia um sentimento de gosto e prazer.
Houve tempo para passar os olhos pela “Fala do Velho do Restelo ao Astronauta”, mais dois, três poemas, mas a decisão foi apenas uma: estava com a minha gente.
E tudo começava logo no primeiro poema do livro:
“Até ao Sabugo”
“Outros porão em verso outras razões,
Quem sabe se mais úteis e urgentes,
Mas ninguém se refaz a natureza,
E como quem prevê acusações,
Aqui direi que busco a só maneira
De todo me encontrar numa certeza,
Leve nisso ou não leve a vida inteira.
Assim como quem rói as unhas rentes.”
Ainda hoje o livro tem o preço escrito a lápis pelo livreiro: 40 escudos.
E era daqueles livros que, gostosamente, se tinham de abrir com uma faca.
O quanto lamentei quando os livros passaram a dispensar o exercício desse prazer, demorando os olhos pelas páginas que se iam revelando e até o livro estar aberto por completo. Só depois a leitura começaria.
Foi assim que começou a minha josésaramaguite aguda.
Feliz do leitor que, por si só, descobre um autor que desconhece, que sem qualquer tipo de ajuda passa a gostar de alguém que, ainda não saberá, um dia será Prémio Nobel da Literatura.
Se isto não é a felicidade, eu andei por lá perto!
Fiquei à espera de outros livros, outras descobertas.
O meu pai era assinante da Seara Nova, e
no nº 1459 referente a Maio de 1967, deparo com uma crítica de José Saramago ao
romance A Execução de Júlio Moreira.
Num livro, publicado em Abril de 2010, pela Editorial Caminho e que reúne a correspondência trocada, durante os anos de 1959 e 1971, entre José Rodrigues Migueis e José Saramago, Saramago escreve:
Num livro, publicado em Abril de 2010, pela Editorial Caminho e que reúne a correspondência trocada, durante os anos de 1959 e 1971, entre José Rodrigues Migueis e José Saramago, Saramago escreve:
Sabe que fui promovido a crítico literário? E da
“Seara”, ainda por cima, que é coisa fina (…) Abri a boca, de puro pasmo.(…) e
eu honesto e perplexo, modesto e desconfiado, dou as minhas razões contra:
falta de preparação de grau universitário, pouco tempo disponível, ou nenhum,
independência ideológica, etc., etc. (…) Acabei por aceitar. E lá estou.
Veremos por quanto tempo. É que, de mim para mim, assentei que, à mais pequena
pressão ou torcidela de nariz, tiro de lá os pés. Para o último número escrevi
duas críticas, uma das quais a Censura deitou abaixo. Bom princípio.
(Carta datada de 8 de Maio de 1967)
(Carta datada de 8 de Maio de 1967)
Quem me conhece, sabe que nutro por José Saramago um
gosto e uma admiração que vão para além da simples relação autor/ leitor.
Óbvio que nem tudo o que José Saramago escreveu, ou disse, ou atitudes que tomou, ou polémicas que manteve, alguma coisa não me provoque reparo, mas de modo algum, ofusca a imagem que dele faço: de um homem de rara personalidade, de braço dado com um brilhante escritor.
Do que de Saramago há aqui pela casa, irei revelando: os livros que outros escreveram sobre a sua obra, entrevistas, opúsculos, o enorme dossier que fui organizando ao longo dos tempos e, acima de tudo, olharei as páginas riscadas de todos os seus livros.
Óbvio que nem tudo o que José Saramago escreveu, ou disse, ou atitudes que tomou, ou polémicas que manteve, alguma coisa não me provoque reparo, mas de modo algum, ofusca a imagem que dele faço: de um homem de rara personalidade, de braço dado com um brilhante escritor.
Do que de Saramago há aqui pela casa, irei revelando: os livros que outros escreveram sobre a sua obra, entrevistas, opúsculos, o enorme dossier que fui organizando ao longo dos tempos e, acima de tudo, olharei as páginas riscadas de todos os seus livros.
Por aqui continuará José Saramago.
Para que a homenagem possa prosseguir.
Legenda: Fotografia da página da Seara Novacom a crítica de José Saramago ao livro A Execução de Júlio Moreira
Para que a homenagem possa prosseguir.
Legenda: Fotografia da página da Seara Novacom a crítica de José Saramago ao livro A Execução de Júlio Moreira
Texto publicado em 27
de Julho de 2010
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