quarta-feira, 24 de junho de 2020

VELHO CARRO DE UM VELHO


Velho carro de um velho num país de velhos
Um gato a quem falta já a ousadia acrobata dos telhados
E as unhas de aço nas retraídas patas
De veludo puído.

Já foste um gato de muito foles sem contar
Com o da indiferença.
Contigo aprendi a lisonja no regaço e a redobrada vénia
Dos amantes de serviço.

Os dois sentimos as festas
No pêlo e na pele metafórica dos sentidos
Politicamente correctos.
Não houve fogo que nos queimasse o gozo de estar vivos.

Aqui é o sol do frio que nos faz sorrir
Aos pés da escada. Não te debruces em excesso
Nas rochas do Carvoeiro.
O gato e a água juntos não serão a melhor escolha de acabar.

Armando Silva Carvalho

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