quinta-feira, 11 de junho de 2020

O QU'É QUE VAI NO PIOLHO?


É quando ele diz a frase certa: um tipo só precisa de um café e de uma boa cigarrada.

Ouve-se a frase no Johnny Guitar, um dos filmes da vida de muita gente.

De João Bénard da Costa sabemos que era.                                                                                                                             
 «Só recordam aqueles que confidenciam, a recordação é uma arte que arranca da solidão e do silêncio», escrevi há quarenta e muitos anos, sem ainda saber ler nem escrever. Hoje, que tinha obrigação de saber mais, só posso repetir que esta arte recordatória, este filme mítico, este filme-mito (tão, tão diferente da memória) arranca também daí: da solidão e do silêncio.»

Uma ópera? O melhor diálogo da história do cinema?

Ainda Bénard da Costa:

«Reduzido a escrito e a seco, o diálogo é confrangedoramente banal, Se as pessoas ficam com tal memória dele é pelo concerto das vozes – raspante, a de Crawford, átona a de Hayden – que se ouve no filme e pela associação delas à fabulosa partitura de Victor Young.»

“Vienna – É uma história triste.
Johnny – Sou bom ouvinte de histórias tristes.
Vienna – Há cinco anos apaixonei-me por um homem. Não era bom nem mau, mas… eu amava-o. Quis casar com ele, ajudá-lo a construir um futuro.
Johnny – Mereciam ser felizes…
Vienna – Mas não foram. Separaram-se. Ele não se via amarrado a uma família.
Johnny – Felizmente ela foi esperta e livrou-se dele.
Vienna – Claro que foi. Aprendeu, daí em diante, a não se apaixonar por ninguém.
Johnny – Cinco anos é muito tempo… Com certeza que, entretanto, na sua vida houve outros homens.
Vienna – Os suficientes.
Johnny – O que aconteceria se esse homem voltasse?
Vienna – Quando um fogo se extingue, só restam as cinzas.
Johnny – Quantos homens já esqueceste?
Vienna – Tantos quantas as mulheres de que te lembras.
Johnny – Não te vás embora.
Vienna – Nâo me mexi.
Johnny – Diz-me qualquer coisa bonita.
Vienna – Que queres que eu te diga?
Johnny – Mente-me. Diz-me que esperaste por mim todos estes anos.
Vienna – Todos os anos esperei por ti.
Johnny – Diz-me que morrerias se eu não tivesse voltado.

Vienna – Morreria se tu não voltasses.
Johnny – Diz-me que ainda me amas como sempre te amei.
Vienna – Ainda te amo como tu me amas.
Johnny – Obrigado. Muito obrigado.

Play the guitar play it again my johnny
Maybe you're cold, but you're so warm inside

I was always a fool for my johnny
For the one they call johnny guitar
Play it again, johnny guitar

What if you go what if you stay i love you
What if you're cruel you can be kind i know

There was never a man like my johnny
Iike the one they call johnny guitar

There was never a man like my johnny
Iike the one they call johnny guitar
Play it again johnny guitar
Ainda João Bénard da Costa:
Muitas vezes ouvi a banda sonora do Johnny Guitar sem ver as imagens. Tudo vem, por acréscimo, toda a memória do filme se repovoa, Mas, para que isso suceda, é preciso haver memória, é preciso ter-se visto o filme. Se é verdade que Johnny Guitar é também uma ópera, não o é menos que está dependente daquela única e irrepetível mise en céne.

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