domingo, 28 de junho de 2020

ANTOLOGIA DO CAIS


Para assinalar os 10 anos do CAIS DO OLHAR, os fins-de-semana estão guardados para lembrar alguns textos que por aqui foram sendo publicados.

DOMINGO NO PARQUE

Sempre entendi a Feira do Livro como uma festa.

Também oportunidade para encontrar, a bons preços, livros que já temos dificuldade em encontrar nas livrarias, por motivos que só estão ao alcance do oportunismo de editores e livreiros.

Chamam-lhes fundos de catálogo, ou lá o que é.

Neste aspecto a Relógio d’Agua, mais uma vez, dá uma banhada à concorrência.

Facilmente manuseados em caixas que mostram os respectivos preços, estão ali grandes livros, grandes autores, por preços que vão dos 3 aos 10 euros.

Sou rapaz de livros e petiscos.


Este ano a mistura é abrangente e espalhada ao longo de todo o recinto: farturas, churros, bifanas, cachorros, caracóis, gelados, cafés, ginjinha.

Espanto-me como ainda não chegaram as roulottes de sandes de coiratos.

Dêem-lhes tempo…

Como dizia: o poeta: primeiro estranha-se, depois entranha-se.

Feira do Livro.

Um encontro de cheiros, sejam eles dos petiscos, dos próprios livros – sempre gostei de cheirar os livros – das flores e árvores do parque, a despedida, por este ano, dos jacarandás, um deles apanhado em pleno gozo de sol e que encima o texto.



Experimente comprar um livro e vá folheá-lo para uma das esplanadas que a feira oferece e que, resumidamente, se espraiam por aqui.

Neste ano, a Feira regista a presença de 480 editores espalhados por 240 pavilhões.

Milhares e milhares de livros que, em grande parte, não sei a que públicos se destinam, mas editam-se.

Nada melhor para encerrar o dia, que reler um velho texto que, suponho seja do Fernando Assis Pacheco:


Feira do Livro.

Pratique então você, sozinho e em segredo, a sua subversão. Faça uso do seu tempo, respire fundo, atenda aos seus sentidos, deixe-se apaixonar, ao toque, ao cheiro, por algum livro antigo, manchado por bolores de anónimos invernos. Oculto, disfarçado como um tesouro celta, enigmático e no entanto familiar, está aquele livro que você sempre quis ler ou perdeu em criança e vai encontrar por escolha sua.

Vá-o abrindo devagar, desfrute-o como um ser único que lentamente se desvenda e oferece sucessivas camadas de beleza. Confunda-se com ele, risque, comente, assinale-lhe no corpo o seu percurso. Use-o, gaste-o, comece-o outra vez. Será este um prazer de nossos avoengos a quem a vista de um tornozelo de mulher proporcionava excitações inconcebíveis e a posse de um livro, só por si, legitimava orgulhos genealógicos.

Boa Feira e bons encontros.

Texto publicado em 2 de Junho de 2017

1 comentário:

Seve disse...

Na Relógio d'Água estão sempre, a bom preço, livros imperdíveis da sublime Carson McCullers-que escritora!!!