Para assinalar os 10
anos do CAIS DO OLHAR, os fins-de-semana estão guardados para lembrar
alguns textos que por aqui foram sendo publicados.
DOMINGO NO PARQUE
Sempre entendi a Feira do Livro como uma festa.
Também oportunidade para encontrar, a bons preços, livros
que já temos dificuldade em encontrar nas livrarias, por motivos que só estão
ao alcance do oportunismo de editores e livreiros.
Chamam-lhes fundos de catálogo, ou lá o
que é.
Neste aspecto a Relógio d’Agua, mais uma vez,
dá uma banhada à concorrência.
Facilmente manuseados em caixas que mostram os respectivos
preços, estão ali grandes livros, grandes autores, por preços que vão dos 3 aos
10 euros.
Sou rapaz de livros e petiscos.
Este ano a mistura é abrangente e espalhada ao longo de
todo o recinto: farturas, churros, bifanas, cachorros, caracóis, gelados,
cafés, ginjinha.
Espanto-me como ainda não chegaram as roulottes de sandes
de coiratos.
Dêem-lhes tempo…
Como dizia: o poeta: primeiro estranha-se, depois
entranha-se.
Feira do Livro.
Um encontro de cheiros, sejam eles dos petiscos, dos
próprios livros – sempre gostei de cheirar os livros – das flores e árvores do
parque, a despedida, por este ano, dos jacarandás, um deles apanhado em pleno
gozo de sol e que encima o texto.
Experimente comprar um livro e vá folheá-lo para uma das
esplanadas que a feira oferece e que, resumidamente, se espraiam por aqui.
Neste ano, a Feira regista a presença de 480 editores
espalhados por 240 pavilhões.
Milhares e milhares de livros que, em grande parte, não
sei a que públicos se destinam, mas editam-se.
Nada melhor para encerrar o dia, que reler um velho texto
que, suponho seja do Fernando Assis Pacheco:
Feira do Livro.
Pratique então você, sozinho e em segredo, a sua
subversão. Faça uso do seu tempo, respire fundo, atenda aos seus sentidos,
deixe-se apaixonar, ao toque, ao cheiro, por algum livro antigo, manchado por
bolores de anónimos invernos. Oculto, disfarçado como um tesouro celta,
enigmático e no entanto familiar, está aquele livro que você sempre quis ler ou
perdeu em criança e vai encontrar por escolha sua.
Vá-o abrindo devagar, desfrute-o como um ser único que
lentamente se desvenda e oferece sucessivas camadas de beleza. Confunda-se com
ele, risque, comente, assinale-lhe no corpo o seu percurso. Use-o, gaste-o,
comece-o outra vez. Será este um prazer de nossos avoengos a quem a vista de um
tornozelo de mulher proporcionava excitações inconcebíveis e a posse de um
livro, só por si, legitimava orgulhos genealógicos.
Boa Feira e bons encontros.
Texto publicado
em 2 de Junho de 2017
1 comentário:
Na Relógio d'Água estão sempre, a bom preço, livros imperdíveis da sublime Carson McCullers-que escritora!!!
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